Ele voltou para receber o meu abraço
Amanheceu um dia claro e fresco de outono.
Dirijo sem pressa a caminho do trabalho desfrutando dos perfumes matinais...
Paro no semáforo e um caminhão FNM antigo cruza a avenida. Me lembro de Manuel. Sorrio cada vez que me lembro dele: o irmão mais palhaço que eu tive falecido em 1989 aos 44 anos.
Quando esta história aconteceu, eu nem era nascida. Manuel estava no segundo ano do Grupo Escolar e aprendia o significado das siglas.
Por ser um menino traquinas a mãe o levava para onde ia.
Dezembro, final da tarde; no bonde repleto, viajam a mãe e o menino. Ao passarem pelo Banco do Brasil, Manuel lê timidamente:
– BB - Banco do Brasil.
A mãe aprova e se orgulha.
Mais adiante passam pelo INPS. O menino primeiro soletra baixinho e depois diz bem alto:
– Instituto Nacional de Previdência Social, né mãe?
– Sim, meu filho, muito bem! – responde a mãe com um largo sorriso.
O alemãozinho que lê siglas começa a atrair a atenção e a simpatia de alguns passageiros do coletivo.
Surge um caminhão vermelho com letras prateadas bem visíveis: FNM.
O menino todo exibido estufa o peito e diz:
– Manhê, eu sei o que é FNM.
– Sabe, meu filho?
Mãe e passageiros fixam a atenção no menino que em êxtase declara:
– Feliz Natal, Manuel
Quem estava no bonde riu e aplaudiu efusivamente o menino!
Esta manhã eu lembrei de você, Manuel, meu irmão sensibilidade, e ao voltar do trabalho escrevi esta crônica. Quando fui datá-la: 23/03/2009 – me arrepiei toda!
Cara, como pode? Hoje é o dia do seu aniversário?!
E você deu um jeitinho de vir, né danado!
Certamente tem acompanhado o que eu escrevo. Afinal, foi você quem me levou para participar do meu primeiro Concurso. Eu tinha dez anos e você, dezesseis...
Valeu irmão! Eu te amo. Cuide-se!