Radiovitrola
Um dia destes estava sozinho no meu carro, já era madrugada e numa tentativa de vencer a solidão liguei o rádio. Assim que ouvi a música que tocava algo muito intenso aconteceu.
Algo maravilhoso, suave e inesquecível como Moonlight Serenade de Glenn Miller e sua Orquestra, tomou conta daquele instante e me levou a outro muito distante dali.
Lembrei-me de um momento da infância. Lembrei-me de meu querido pai com seus discos pretos de 78 rotações me dizendo para ter cuidado para não arranhá-los. Lembrei-me da nossa radiovitrola, com sua imponente caixa de mogno maciço que parecia uma imensa cômoda. Foram tantas as músicas que ouvi daquele belo aparelho, algumas alegres, outras melancólicas, que ajudaram a construir meu universo musical.
Envolvido por esse clima delicioso fiquei imaginando a dimensão que a música tem dentro dos meus pensamentos.
Tantas músicas ficaram fixadas a certos momentos marcantes da minha vida a ponto de ao escutá-las, me transportar como num túnel do tempo àqueles momentos, com riquezas de detalhes.
Músicas de roda de samba, de hino do time ou de nosso País, músicas para ninar, para animar, para dançar, para tocar e colar os grandes amantes.
Músicas que lembram um fato, uma data, um encontro, uma dor, uma paixão e tantas situações que vão da infância até os dias atuais, sem me esquecer da deliciosa e fértil adolescência.
Músicas que são capazes de lembrar como criar novos momentos. Que não só não nos abandonam na solidão, como nos colocam em reunião com um único e importante alguém ou com muitos outros também.
Pensei no quanto a música está presente na vida do ser humano desde o princípio dos tempos e se assim se faz, é porque importância tem.
Saí de meus devaneios quando a música acabou e a viagem também.