Agosto 2009-

Acabou-se o que era doce. A Quinta Mostra Cultural de Lavras chegou ao fim. Críticas, positivas e negativas vêm até a mim. Ouço, tanto umas quanto as outras, mas não pretendo atender nem aos que pedem duas mostras anuais nem  aos que acham que duas semanas de Mostra é um exagero. Nesse caso não fico nem com o oito nem com o oitenta, mas atendo ao bom senso da maioria. E ao meu.

Foram quatorze noites encantadas, noites de lua crescente e de lua cheia. Noite de poucas estrelas e exceto por duas noites de frio terrível e vento cortante, foram noites de frio tépido convidando ao aconchego. Foram três domingos festivos onde os eventos aconteceram pela manhã aproveitando o público que, dos cultos religiosos, converge para o coração da cidade. A Feira de Artesanato e Culinária, de existência regular, foi enriquecida pela Feira de Livros, de Antiguidades, por uma exposição fotográfica, pela presença de uma barraca da Biblioteca Pública Municipal com contadores de História. E na Tenda Branca, tanto a noite quanto nas manhãs de domingo, os eventos musicais.
 
Passei pela Praça hoje à noite. A Tenda já foi desmontada e seguiu seu caminho. O silêncio reina absoluto. Onde estão os sons das guitarras, o sopro da música, a voz dos anjos? Onde estão os aplausos, os batidos ritmados, o riso solto e alegre? Não, eles não desapareceram, continuam guardados no coração e na lembrança de todos que puderam sentir a magia trazida pela Arte nessas noites de inverno que já antecipam a radiosa primavera.

Foram tantos os momentos sublimes que se tornam impossível registrá-los com exatidão. Por isso registro aqueles que tocaram meu coração de uma forma tão pungente que até doeu, de tanta beleza. A voz de Elisa, acompanhada pelos Amigos do Choro, cantando as composições de Eugênio Gomez (Maria Alice/Adoniram no Céu). Murilo Barbosa cantando a música que faz chorar todas as vezes que ouço: naquela mesa está faltando um/e a saudade dele está doendo em mim. O solo de Aline durante a apresentação das Meninas Cantoras de Lavras: ela tem só nove anos, uma menina negra e linda, com voz de cantora norte americana de gospel. Ivan Segall, que se apresentou durante uma das noites mais frias da Mostra, pedindo ao público para tirar as mãos do bolso para aplaudi-lo. É claro que foi prontamente atendido. A apresentação Black Dogs Jazz e, para mim, a grande revelação do Evento, o jovem Ariel tocando gaita. Agora é esperar que o mundo dê uma nova volta e um novo agosto se apresente. Para que música de qualidade seja levada ao público de bom gosto cansado de ouvir tanta coisa ruim que empesteia nossos ouvidos.