ARMADILHAS DO AMOR ATEMPORAL
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Por Carlos Sena

 
"O amor é um grande laço, um passo para uma armadilha. Tanto engorda quanto mata, feito desgosto de filha"... Penso ser um trecho de um poema de Mayakovsky, poeta Russo dos melhores. Se não for, basta-se nesta contextualização acerca do AMOR, esse sentimento que a ciência e a tecnologia não conseguem definir com rigor os seus limites de ação e reação. Amar alguém, parece que beira um pouco a linha do ridículo, desde que se ridículo for, enalteça o bem-amado rompendo com o socialmente estabelecido.

Há quem pense que o amor verdadeiro tem que acontecer na lógica das expectativas sociais. Há controvérsias estruturadoras, posto que o SENTIMENTO que no amor se estabelece tem tudo para ser compreendido por fora dos formalismos sociais esperados. De fato, o amor é um grande laço e pode ser até uma armadilha. O diferente é que enquanto laço é único em seu "nó"; enquanto armadilha não escolhe "isca". Democrático, o amor se insinua feito ódio enquanto seu oposto. Há quem diga mesmo que são os extremos refletidos no espelho. Prefiro vê-lo no viés da recondução dos indivíduos a si mesmos, pois esse sentimento de reencontro fica muito estabelecido quando nos apaixonamos, quando começamos a ver cores e a sentir rubores em função do ser amado. Evidente que o romantismo se intervém neste contexto. Difícil separar a paixão e romantismo do amor. Porque o diferencial acontece, geralmente, na perenização do afeto. Outro elemento: AFETO, que a condução do AMOR não pode prescindir no seu condimento. Talvez uma linha tênue se interponha nesses conceitos, o que conduz a amorização para um sentimento que se agasalha na relação que se estabelece. Primeiro a PAIXÃO, depois o AMOR e, finalmente, o AFETO, não necessariamente no rigor desta ordem. Essa linha tênue conduz às POÉTICAS "ALGEMAS DE CRISTAL" da relação baseada no amor e configurada no respeito e no companheirismo, donde o sexo cede espaço para a sexualidade; a paixão, para o amor e o afeto permeando todos.

Essas são coisas de sentimento heterodoxo que a humanidade não consegue colocar nas "pipetas" para mensuração. Evidente que muitas nuances são confundidas nesse sentimento sob forma de projeção psicanalitica. Tudo indica que quando essas nuances são fortes, a relação não demora e logo há cisão no que seria o AMOR. Neste sentido, quando um dos parceiros em nome do amor, buscar um pai ou uma mãe, um preço alto será pago pelo equívoco, porque a afetividade tem local específico para se alocar e, neste caso, terá que haver um deslocamento.

Amor de homem por mulher, de homem por homem, de mulher para mulher, se for AMOR logo rompe com o STATUS QUO geralmente conduzido pelo falso moralismo da sociedade. Todos sabemos que as grandes histórias de amor da humanidade não foram aquelas que andaram dentro do socialmente estabelecido. Claro que podem acontecer inclusive dentro do citado estabelecido, seguindo o rito de ser um sentimento pouco submetido a previsibilidade. Grandes amores podem ser compreendidos nas possibilidades de grandes separações, de grandes choques afetivos causados pela perda, pela ruptura, pelo fim da relação. Porque o grande equívoco dos amantes é apostar nas relações eternas, daí a grande contribuição de Vinícius de Moraes: "que seja imortal posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure" (...). Conheço pessoas que modificam um pouco essa colocação que fica assim: imortal porto que é chama, mas que seja infinito enquanto DURO!

Assim, distante de querer exaurir esse tema tão antigo e tão novo ao mesmo tempo, não ignoramos a intensidade da dor da perda de um grande amor como já nos pronunciamos. Diferente da dor física que o médico receita e na farmácia tem o remédio, a dor do amor é curtida por cada um. Ninguém pode senti-la pelo outro, nem mesmo se aventurar em dar receitas tipo "almanaque de Biotônico Fontoura" ou da "psicologia" popular de banco de feira. Só o tempo é o grande artífice de uma separação, daí a metáfora inicial do "tanto engorda quanto mata feito desgosto de filha", porque desgosto de filha deve doer demais, considerando a natureza da relação.

Talvez console um pouco saber que, no geral, AMAR-SE a SI MESMO seja um pouco do antídoto para uma grande se-pa-ra-ção afetiva. Melhor: quando a gente sentir que o AMOR está invadindo os sete buracos da nossa cabeça, destravemos nossa auto estima e permitamos que ela aflore ainda mais o AMOR QUE TEMOS QUE TER POR NÓS MESMOS. Até porque, o primeiro passo para amar aos outros é ter esse amor dentro de cada um. Talvez dessa forma, ajudado pelo TEMPO, a gente não se demore muito na recuperação desse sentimento que, por algum motivo nos traiu. Mas de tantas coisas, uma me vem como certeza: "é sempre mais feliz quem mais amou"...

CARLOS SENA, dos arre(DORES) de Fortaleza, no Ceará.