ESCALADA DO CÉU
Por Carlos Sena
Por Carlos Sena
Um jovem sai do Brasil e vai para outro país escalar uma montanha gelada a mais de dois mil metros de altitude. Certamente seria um moço de classe média alta, bem nascido, boa aparência que, movido pelo ideal de quebrar recordes, lançou-se nessa aventura que lhe causou a morte.
Deu no Jornal Nacional: "enfim foi encontrado o corpo" congelado nas montanhas, etc., e tal. Homenagens nas areias de Copacabana, a mãe leu uma mensagem, os amigos mais íntimos deram depoimentos. Nada de incompreendido nessa trágica história, não fosse a natureza humana em si mesma e por ela própria, sobre os valores da vida que nos conduz a reformulação de conceitos sobre a morte.
Evidente que lamentamos o episódio, mas temos uma visão diferenciada dos fatos: a) um jovem sai de sua casa, gasta dinheiro, aventura-se perigosamente e morre; b) centenas de brasileiros sem sair do seu país, sem ter dinheiro, vivendo abaixo da linha da pobreza ou pouco acima, morrem todo dia nas filas do SUS - SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE, sem que ninguém se importe, sem que a imprensa dê uma cobertura mais sistemática e dura; sem que os governantes demonstrem atitudes no sentido de minorar a situação.
A grande maioria dos veículos de comunicação transforma logo em ídolo ou em mártir, a vitima da ocasião. Assim foi com Airton Senna e será com tantos outros. O grande diferencial é que quem vai praticar esportes de alto risco sabe, exatamente, que pode morrer ou ficar inválido pra sempre. Já o nosso povo sofrido que morre na fila do SUS, não. Eles não têm culpa direta no processo, pois não pediram
pra nascer num país em que a grande maioria dos "pralamentares", digo parlamentares, não está nem aí para opinião pública, o SENADO que nos diga, diante de tanta baixaria que a tv tem nos mostrado. A coisa por lá está rendendo mais do que fuxico na casa de pobre, com todo respeito ao pobre.
Estabelece-se, portanto, a lógica da dominação eletrônica. Invertem-se os papéis via fatos: chora-se por quem sabia que poderia morrer ao aventurar-se em esportes perigosos, nada se faz pelos que perdem a vida sem desejá-la. Só porque nasceram pobres e num país que pouco investe em educação, muito menos na saúde pública digna, respeitosa, cidadã. A culpa é de todos. Pelé quase que tinha razão quando falou que não sabemos votar. Eu completo: nós até sabemos votar, pois dominamos a urna eletrônica com facilidade, mesmo os analfabetos. Não sabemos é escolher, mas que isto não nos sirva de escudo, porque se desde princípio a roubalheira impera, torçamos para que tenhamos um fim com atitudes e vontades políticas sérias.
Que o moço descanse em paz na escalada do céu.
Deu no Jornal Nacional: "enfim foi encontrado o corpo" congelado nas montanhas, etc., e tal. Homenagens nas areias de Copacabana, a mãe leu uma mensagem, os amigos mais íntimos deram depoimentos. Nada de incompreendido nessa trágica história, não fosse a natureza humana em si mesma e por ela própria, sobre os valores da vida que nos conduz a reformulação de conceitos sobre a morte.
Evidente que lamentamos o episódio, mas temos uma visão diferenciada dos fatos: a) um jovem sai de sua casa, gasta dinheiro, aventura-se perigosamente e morre; b) centenas de brasileiros sem sair do seu país, sem ter dinheiro, vivendo abaixo da linha da pobreza ou pouco acima, morrem todo dia nas filas do SUS - SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE, sem que ninguém se importe, sem que a imprensa dê uma cobertura mais sistemática e dura; sem que os governantes demonstrem atitudes no sentido de minorar a situação.
A grande maioria dos veículos de comunicação transforma logo em ídolo ou em mártir, a vitima da ocasião. Assim foi com Airton Senna e será com tantos outros. O grande diferencial é que quem vai praticar esportes de alto risco sabe, exatamente, que pode morrer ou ficar inválido pra sempre. Já o nosso povo sofrido que morre na fila do SUS, não. Eles não têm culpa direta no processo, pois não pediram
pra nascer num país em que a grande maioria dos "pralamentares", digo parlamentares, não está nem aí para opinião pública, o SENADO que nos diga, diante de tanta baixaria que a tv tem nos mostrado. A coisa por lá está rendendo mais do que fuxico na casa de pobre, com todo respeito ao pobre.
Estabelece-se, portanto, a lógica da dominação eletrônica. Invertem-se os papéis via fatos: chora-se por quem sabia que poderia morrer ao aventurar-se em esportes perigosos, nada se faz pelos que perdem a vida sem desejá-la. Só porque nasceram pobres e num país que pouco investe em educação, muito menos na saúde pública digna, respeitosa, cidadã. A culpa é de todos. Pelé quase que tinha razão quando falou que não sabemos votar. Eu completo: nós até sabemos votar, pois dominamos a urna eletrônica com facilidade, mesmo os analfabetos. Não sabemos é escolher, mas que isto não nos sirva de escudo, porque se desde princípio a roubalheira impera, torçamos para que tenhamos um fim com atitudes e vontades políticas sérias.
Que o moço descanse em paz na escalada do céu.