Doces Lembranças

Hoje me vesti de saudade... Do tempo em que ia passar as férias escolares num sítio onde moravam meus avós maternos. Todo o dia acordava bem cedo, saudava o nascer do sol, sentia o cheiro de ar puro, ficava olhando meu avô tirar o leite das vacas.

Acompanhava-o até o açude com o gado e quando meu avô descuidava, saia escondido montada no cavalo... Quando voltava levava uma bronca e ficava bem caladinha, quietinha no meu canto. Eu era apenas uma criança.


Lembro-me que quando ele saia com minha avó, pra resolver alguma coisa, minha prima adolescente de 16 anos me pedia pra ficar perto da janela, pastorando a volta dos dois, enquanto ela namorava escondido. Quando os avistava de volta, dizia em alta voz:

-Lá vem os dois... Eles já estão próximos à porteira.

Então, imediatamente, o namorado da minha prima pulava a janela, saltava no cavalo e ia embora pelos fundos da casa, num caminho oposto aos que meus avós vinham.

Nossa!Lembrar isso agora, me faz ter até um pouco de remorso, por ter tapiado meus avós... E pensar que eles me queriam tanto bem!Na verdade, na época não entendia direito a situação.

  Um detalhe: Minha prima dizia que ia me ensinar a fumar, porque sempre que me pedia pra acender o cigarro pra ela.

Tentativas em vão! Porque acabava me engasgando...

Ratifico:Tinha curiosidade em aprender a tragar, porém, nunca aprendi! Hoje, num quero mais.
Às vezes me questiono: Aprendi tanta coisa difícil, venci tanto obstáculo e não aprendi a tirar um trago. Talvez tenha sido até um livramento em minha vida...
De tudo o que mais me fascinava, eram as árvores bem frondosas. Gostava de armar uma rede e ficar me balançando debaixo delas, arrumava a casinha de bonecas, sentava e ficava criando histórias, e ao final da tarde, me despedia das árvores. Tinha mania de falar com elas, contar meus medos que sentia e que não revelava a mais ninguém, principalmente, coisas que consideravam estranhas e temia em dizer a alguém e passar por louca, ou coisa desse tipo.

 Interessante é que na infância, associava o estado das plantas que tinham em casa e no sítio, ao estado emocional dos donos da casa, por exemplo. Coisa de criança!

Ficava observando como era lindo quando o vento batia nas folhas.As roseiras então, acariciava suas pétalas e ficava imaginando como a plantinha ficava cada vez que uma flor se doava, indo embora dos seus lugares, pra um dia murcharem, mas novo botão saía e achava isso divino!Adoro as plantas.


Quando anoitecia, era tudo tão calmo, tão silencioso... Gostava de me sentar numa pedra e ficar sozinha esperando que as estrelas caíssem pra eu fazer um pedido...

 _Menina, deixa de falar com o tempo e passa pra dentro de casa... Vem dormir! Dizia meu avô.

Antes de dormir, tinha que rezar, falar com Deus, com o Anjo de Guarda, mas tinha que brincar com eles primeiro. Como é bom o carinho dos avós!

Quando eles partiram, sofri muito. Principalmente minha avó que faleceu segurando a minha mão, antes do último suspiro.


Desde que eles se foram, nunca mais voltei lá... Só no pensamento, com muita saudade, que às vezes até dói.

Era uma casa enorme, de muitos quartos, muito espaçosa, que abrigava muita gente. Hoje, o sítio, a casa, continua lá, no mesmo lugar, mas meus avós, minha prima/amiga já se foram... Deixaram boas recordações que me atravessam a alma. Lembranças gostosas de ter, partes que constituem meu “eu”, do amor que a mim dedicaram, do aconchego daquele lugar tão lindo; cenário natural de beleza.

Foram momentos mágicos... Hoje são apenas lembranças que trago comigo, guardadas com amor, da forma mais bela que alguém possa imaginar!

 
 
 
 

Antonia Zilma
Enviado por Antonia Zilma em 06/08/2009
Reeditado em 14/09/2022
Código do texto: T1739393
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