Apenas uma chance

Eu passei aquela noite inteira tentando fugir, desviar o olhar, ser forte e fingir que existiam coisas ao meu redor mais importantes do que aquele sorriso. Fiz um esforço tremendo e fiquei o tempo inteiro com uma cara neutra - que só de lembrar me dá nojo da minha covardia, do medo daquela louca atração que estava sentindo.

Tudo o que eu mais queria era aproveitar aquele momento, desligar ou pelo menos diminuir o ritmo do meu cérebro ansioso e fingir que o amanhã só acontece realmente amanhã. Mas não consegui. É isso mesmo, aquela menina que um dia foi só impulsos parece que resolveu fugir de dentro de mim. Fiquei sozinha sendo “mulher” o bastante para controlar meus desejos, aprisionando até as mais simples vontades.

É inevitável não sentir vergonha de mim, saudades de mim. Fico procurando toda coragem que tinha para encarar tudo que a vida me proporcionava. De ir em frente e ser feliz, nem que fosse por um breve momento. No outro dia eu poderia olhar no espelho e sentir orgulho,pois por mais que visse no reflexo uma cara toda quebrada e coberta por lágrimas, por pior que fosse o aspecto dela, mesmo assim ainda seria a minha cara, a única. Ainda assim poderia enxergar naquele reflexo uma limpa e bela trindade:corpo,alma e coração. E eu poderia sentir orgulho por ter sido eu mesma.

Agora estou aqui insone, confusa, sentindo uma coisa repulsiva que nenhum ser humano deveria sentir: arrependimento. Milhões de “se” invadem a minha mente. “se eu tivesse beijado.” “Se eu tivesse abraçado” “Se não tivesse sido omissa” “Se tivesse sido eu mesma” “Se..” . Acho que esses “se” são sempre proporcionais a covardia. E no meu caso parece que foi infinita.

Fora a covardia um outro (meio) motivo pelo qual não dei o beijo tão esperado, um abraço bem apertado foi por ele ser uma pessoa ilimitada, aquele tipo que não tem as qualidades expiradas no final da noite, alguém com a qual poderíamos passar uma vida inteira e mesmo assim o tempo ainda seria insuficiente para viver tudo desejado. É um alguém quase vício.

As vezes penso que talvez eu tenha feito certo, porque água na boca, situações incompletas e mal resolvidas conseguem me deixar pior do que o tal do arrependimento.

Certa ou não. Vou ter que confessar que daria tudo por uma segunda chance E vocês que me perdoem, mas hoje vou ser clichê. Ser igual a todo mundo e querer quando já não tenho mais. Dando valor apenas quando perco.

Vou fazer promessas. Acho que não custa nada. Para falar a verdade, acho que custa muito. Ele custa. É valioso, coisa rara, jóia ímpar. Só que dessa vez pago o preço. Até mesmo o de ser uma boa menina. Serei por toda vida ou só por hoje, se ele quiser. Como quiser. Prometo.

Talita Souza
Enviado por Talita Souza em 28/07/2009
Reeditado em 07/08/2009
Código do texto: T1723025
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