A importância da poesia
Eu queria falar da importância da poesia em si e para isso relembro o filósofo Giambatista Vico, que nasceu em Nápoles e viveu entre 1665 e 1744. Vico contrapunha a razão lógica de Descartes à sensibilidade emotiva e salientava o primado da linguagem poética numa nova ordem de valores: a obra poética pelo prisma do verdadeiro e do belo.
O maior destaque que Vico dava era em relação à “valorizar a fantasia poética e o espírito platônico”.
As melhores obras humanas se fazem
por certo furor (mania) ou delírio
infundido pelos deuses. É inferior
toda poesia que, não nascida desse
delírio, pretenda penetrar o recinto
das Musas.
Platão
Enquanto Descartes se orientava numa diretriz matemática – racionalista, Vico tinha uma “pretensão quimérica”, pois existiam “produtos” humanos fundamentais, “que não podem ser demonstrados logicamente, como a poesia”, uma linguagem que é um repositório de mitos, de fábulas, o que chamam de “expressões do espírito”.
Para o importante estudioso Alfredo Bosi: Vico chega a falar, ilustrativamente, em sabedoria poética, como a de alguns poetas, que usaram tons irracionalistas, palavras míticas carregadas de significados. [...] O trabalho mais sublime da poesia é dar senso e paixão às coisas sem sentido. [...]... os primeiros homens, como se fossem crianças do gênero humano, não sendo capazes de formar gêneros inteligíveis das coisas, tiveram necessidades naturais de imaginar os caracteres poéticos, que são gêneros ou universais fantásticos”, ou seja, a poesia nasceu antes do que a prosa, e é a única que sobrevive a esse obsessivo processo de mercantilização da cultura previsto por Marx e assim sendo, resiste numa verdadeira trincheira aos ataques do capitalismo que a tudo devora e incorpora (punks, hippies, etc).