LEMBRO SEMPRE
Evaldo da Veiga


Era um bairro pobre,
na frente tinha um pedra plana mais ou menos grande.
Por cima passava um automóvel, raras vezes, mais comum 
era passar carro de boi, bicicleta e uma mulher boa.
Boa de alma quase sempre, e boa de perna e linda 
de cara, algumas vezes.
 
Vontade de cresce pra namorar...
Por o Piru na Baratinha de uma mulher, que lindo!
Ainda mais pra mim que nunca tinha visto
 uma baratinha, direito...
Era uma imagem de sonho que agente moldava 
segundo o que não se sabia.
Cabelo tinha, todos os garotos tinham certeza,
não se sabe, vinda de onde..
E mais o que? Só sabíamos que era bom, mesmo 
agente não conhecendo, era uma busca, o grande sonho...
 
Tinha pés de mangueira, de jabuticaba, tamarindo,
bananeira, tudo muito farto e quase tudo sem dono.
Era só subir no pé e comer trepado, não precisava descer.
À noite brincadeira de roda para as meninas, escambida
e soldado ladrão para os meninos
Uma vez a Ção, que tinha o nome certo de Conceição,
não se deu conta que estávamos atrás do muro e mostrou 
a Baratinha de frente para o clarão da lua, alardeando:
 "Olha como minha baratinha  brilha!!!" 
As meninas olharam o concordaram: brilha mesmo!!!
Para nós, os meninos,  não. Não tinha cabelo ainda, 
não era Baratinha de Mulher, valia não.
Menina não era mulher, somente menina.
 
Havia os constantes comentários que o mundo iria acabar.
Ai, a vizinhança ia pra casa de Dona Rosa que lia a Bíblia
 e acalmava a vizinhança.
Pra nós, os meninos o bom é que Dona Rosa,
 pura que nem Santa, cruzava as pernas,
e parecia aquela calçona que já tinha apelido de calcinha.
Que tesão a calcinha grandona de dona Rosa,
 mulher linda que salvava o mundo.
Um menino mais sabido, o Joãozinho, passou a 
espalhar o boato, com constância.
Na Pedra, ele gritava com sua voz fina e vibrante:-
"gente o mundo vai acabar, deu no rádio, 
vamos todo mundo pra casa de Dona Rosa!!!.."
O pessoal tinha um medo enorme de o mundo acabar. 
A sala ficava repleta de  senhoras e os meninos sentados
no chão, vendo a calcinha, da Dona Rosa...
Mulher linda que salvava nosso bairro, e por certo,
tinha cabelo na Baratinha, mas não dava pra ver não, que pena...


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