Lavar Louça Todo Dia Que Agonia...

Lavar Louça Todo Dia Que Agonia...

Agora não mais, graças à boa e útil máquina de lavar louças - uma octogenária! Bem, pelo menos na Europa. Foi isso o que eu li por aqui hoje, no jornal local.

O que me chamou a atenção para a matéria foi o título, mais ou menos assim: “Há 80 anos ELA vem salvando casamentos”. Depois que descobri quem era ELA, concordei imediatamente.

Certa vez, hóspede de um casal de amigos, pude observar a importância dessa tarefa para o bem-estar conjugal. Quem vai lavar a louça (ou não) pode ser mesmo uma questão muito delicada num casamento. Esse casal havia bolado todo tipo de estratégias: desde tabelas até regras do tipo: “Quem cozinha fica dispensado de lavar a louça”. Funcionaria bem, não fosse a tendência (ou seria tentação?) de uns e outros em querer trapacear.

Nesta época eu não entendia nada disso, pois era solteira e sempre havia morado só desde que saíra da casa da mãe. Para ser gentil e retribuir a hospitalidade, também para desanuviar um pouco o clima que surgia após as refeições, eu me oferecia de bom grado para “fazer a lavação do que tinha que ser lavado” – como gostava de cantar o personagem do Renato Aragão - o Didi Mocó Sonrisal Colesterol Novalgina Mufumo – Aí deu “sardade”...

Depois que me casei fui entender essa questão – complexa, muito difícil - do processo de “lavar louça”. E olhe que sou até muito condescendente neste sentido: “Mil vezes uma pia cheia de louças sujas do que uma pilha de roupas por passar! Tá doido!?”

A matéria do jornal, assinada por uma pessoa chamada Inga Radel – com este nome suponho que seja uma mulher, se bem que hoje em dia não se pode confiar só nisso, não é mesmo? - Bom, essa criatura me trouxe uma informação interessante: e não é que a máquina de lavar louças, o primeiro modelo que se tem notícia, data de 1886 e foi patenteado por uma mulher? – “Êba! Viva nóis!” – Sim, uma mulher. Uma americana chamada Josephine Cochran.

Diz a lenda que essa senhora, cansada de ver seus empregados acabarem com suas louças, e não querendo ela mesma arcar com a tarefa de lavá-las, pôs-se atrás de uma solução para esse grande problema. E achou, embora o resultado fosse um treco enorme e muito difícil de manusear. Hoje mesmo, lendo uma crônica do José Cláudio (1), fui levada a pensar no papel fundamental dos preguiçosos para o “progresso”: A preguiça sim é a mãe das invenções, e não a necessidade, como eu pensava.” :-)

Em 1929, a firma Miele trouxe ao mercado europeu a primeira máquina de lavar louças. No início era usada só em restaurantes. Depois, com os anos dourados da economia – por volta de 1960, época que ficou conhecida na Alemanha como “O Milagre Econômico” -, máquina de lavar louças passou a ser artigo comum em muitos lares. Hoje em dia, informa o jornal, ela está presente em mais de 70 por cento dos lares alemães.

Há uma razão para isso. Como por aqui água e energia têm custo elevadíssimo, qualquer forma de economizá-los é investimento, no bolso e na natureza. Eu e meu marido observamos: depois que adquirimos uma máquina de lavar houve baixa significativa em nosso consumo de água e energia elétrica. Dentro de pouco tempo o custo da máquina se amortiza.

-- Quem vai lavar a louça hoje?

-- Eu não, que ontem foi meu dia!

Não tendo mais que perder tempo com discussões tolas desse tipo, e podendo investir o tempo gasto com “a lavação” em outras coisas - como escrever, por exemplo - taí uma invenção no contexto do lar que vale a pena ser festejada! Agora, sempre que me perguntarem: “Quem lavou a louça hoje?”, vou responder: “Nem eu, nem meu marido... Uma senhora octogenária, muito serelepe, danada que só! Uma mão na roda.”

Depois de comer, ao invés de ter que trabalhar (lavando louça), melhor mesmo é ter tempo livre para decidir o que se quer fazer, “num é”?

Um abraço fraterno :-)

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Referências:

1 – Trabalhar e Comer – José Cláudio

http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/1696628