TRABALHAR E COMER

TRABALHAR E COMER

Os glutões, nossos ancestrais tinham uma relação voraz com o alimento. Não importava muito qual fosse ele. Saciar a fome era garantia de mais um dia vivo. Portanto não primavam muito pela seleção. É verdade também que não havia muitas opções. Temperos então, o que dizer? Mas também não havia culpa com relação à quantidade nem com estética corporal. Sendo o suficiente para repor energia estava bom demais. Afinal, depois iriam precisar sair à caça novamente. E era também esse o seu trabalho. Os aperfeiçoamentos que vieram com o tempo foram no sentido de melhorar seus métodos e diminuir os esforços para adquirir seu produto alimentar.

O trabalho, na medida do desenvolvimento relacional com a natureza foi ganhando gosto e especialização. Com isso o prazer ia aumentando. O homem descobrindo que com um instrumento novo, conseguia obter com mais facilidade os meios necessários para a sua subsistência.

Os preguiçosos (que devem ter gerado os invejosos) passaram a disputar o produto tecnológico que o outro inventou e a disputa ferrenha entre os homens passou a ser não só pela comida, mas também pelos meios mais fáceis de consegui-la.

Bom, de lá para cá, muita coisa se passou e muita gente conhece essa história de como chegamos à mesa com toda a sofisticação moderna, com as culpas que vieram junto do ato de comer e do tédio provocado pelo trabalho. Desde que o homem deixou de fazer para si, com gosto e teve que se sujeitar ao outro e ficar apenas com uma parcela de sua produção, trabalhar e comer não tem mais o mesmo charme lá das cavernas.

O que botamos para dentro e o que botamos para fora?

As angústias decorrentes desse processo histórico, antropológico e sociológico resvalam no estômago e nas crises decorrentes da insatisfação com o labor.

Para dentro, enviamos alimentos que nos causam prazer momentâneo e culpa imediata. Alguns colocam outros agentes, menos alimentares e mais tóxicos em sinal de rebeldia. Mas é opcional.

Para fora, botamos ruminâncias verbais. Alguns colocam balas e outras formas de agressão.

Opção ou doença?

Inspirada na crônica PATOLOGIA ASSUMIDA, de Milena Romariz (daqui do Recanto).

josé cláudio Cacá
Enviado por josé cláudio Cacá em 13/07/2009
Código do texto: T1696628