TEXTO PARA UM DIA DE JULGAMENTO

Texto para um dia de julgamento (rascunho)
Alexandre Menezes

          Cópia da pronúncia e síntese dos relatos. Acusação, defesa, réplica, tréplica, apartes: usado todo o tempo, um pouco mais de cinco horas. Todos na sala secreta e eu fiquei de fora. Materialidade aceita, autoria perfeita e não creio na absolvição. Confuso, me apego ao conforto de saber que o entendimento não será unânime e, mesmo sabendo que para ninguém é, pela primeira vez, certamente o ego não inflará por ser qualificado e majorado. Será se todos os quesitos serão questionados?

          Aqui de fora me delicio com a possibilidade de uma típica desclassificação. Estar em suas mãos sempre foi o desejo para esclarecer alguns equívocos do passado. Porém, desde que nos desencontramos, sempre me viu muito além de um simples culpado, logo, a mim tentativa certamente não caberia. Seu olhar impressionado não combinava com a indiferença que tentou passar e,mesmo assim, como foi bom rever seus olhos. Por um abandono que não fui capaz, de que forma ela então me julgaria? Não estávamos diante de um crime consumado contra à alegria, à felicidade, à vida. É, nos reencontramos atipicamente.

          Esperei a porta se abrir para vê-la voltar sem reconhecer que era suspeita para julgar-me. Preferi ver tudo seguir para saber qual sabor teria o proferimento da sentença no tom daquela voz. Não havia me esquecido de nada. Ainda registro na memória, como num arquivo, a suave entonação que fazia dos meus versos, a ela dedicados, mesmo misturados a gritos, prazeres e gemidos quando ainda era universitária. Então vinculada às conclusões alheias, outra vez sobre mim decidiu. Leu.

          Fui imediatamente intimado para eventual contraditório e via nos seus olhos a certeza que também queria. Aliviado, no próximo encontro seria a oportunidade de corrigir erros e injustiças de duas vidas. Condenado, por motivos dela, ali mesmo coloquei –me a explicar redigindo coisas que sempre quis dizer. Daria tudo pra saber como reagiria ao ler o recurso que em homenagem e inspirado nela, em versos, fiz questão de escrever. Não soube disfarçar.