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Fazer o que se pode, do jeito que se pode e quando se quer fazer...
Um dia desses, encontrei-me no Shopping, com um rapaz que foi meu colega em um estabelecimento bancário. O mesmo rosto tranqüilo, quase nenhuma ruga, o mesmo sorrisão aberto, o mesmo olhar sedutor... Apenas uma barriga um pouco diferente, ou seja, maior. Ele estava sentado em um daqueles bancos, tranqüilamente olhando para tudo (ou para nada), quando o chamei:
- Luiz!
Ele procurou o local de onde saiu a minha voz e veio em minha direção.
- Você por aqui! Há quanto tempo... E aquelas costumeiras perguntas: e a família, os filhos, tem visto algum dos colegas? Etc., etc.
Após as perguntas e respostas, fiz uma viagem a jato, de volta ao banco, ou seja, uma regressão para uma época e fatos acontecidos há mais de trinta anos e lá estava eu, em frente à sua carteira de trabalho. Pilhas e pilhas de fichas de clientes, cadernetas para serem atualizadas, débitos e créditos para serem lançados, ordens de pagamento para serem adiantadas, cheques para serem compensados, enfim, um “mundo” de coisas para fazer. E tudo na máquina de datilografia, que nem era elétrica!!!
Luiz, tranqüilo, pegava um a um os documentos, analisava, conferia, separava, arquivava, tudo isto como se aquele fosse o único documento a ser trabalhado.
Eu perguntei:
- Para que dia é isto tudo? E ele, calminho, calminho:
- Para ontem.
- E você está fresco deste jeito? Quer ajuda?
- Não, obrigado, vá cuidar do seu serviço, eu dou conta e se não der...Fica para depois...
- Mas você não disse que era para ontem?
- Disse...Mas me deram para fazer hoje!
Sempre foi assim. Na época eu ficava admirada, principalmente quando, no dia seguinte, nos víamos no início do expediente e eu perguntava por todo aquele monte de papéis, e ele me dizia que foi tudo bem...Tudo foi resolvido. Como? Eu pensava... De que jeito?
“Acordei” da regressão e perguntei para ele:
- Luiz, você está igualzinho! O que faz sentado neste banco? E ele: estou esperando aquele caixa do Bradesco resolver funcionar, para tirar um dinheiro. Calminho, calminho. Como sempre foi.
- O que você faz para manter-se assim? Conta-me o segredo! E ele:
- Não sei de segredo nenhum. Só sei que só faço o que posso, do jeito que posso e quando posso.
Eis aí uma grande lição.
Não sei se o Luiz faz terapia, se lê livros de auto-ajuda, se faz meditação ou Yoga, se frequenta cursos, se participa de seminários ou vivências em grupo. Só sei que em 1975, por aqui, no interior da Bahia, e acho que em vários outros lugares, não se falava destes recursos.
Ele tinha inato esse “conhecimento” e o aproveitava naturalmente. Um privilegiado, com certeza. Um Zen.
Depois do encontro pensei: quantos de nós vivemos apenas o Agora? Fazemos um documento por vez?
Quantos se exasperam ao constatar que não conseguem fazer algo sem a ajuda do outro?
Muitos fazem o que não querem, apenas para agradar ao outro, trabalham em algo que detestam apenas porque “o dinheiro é bom!”
Outros possuem seu jeito próprio de fazer algo, mas deixa-se tolher pela modernidade, pela globalização, pelo “gosto do cliente” pelo apelo do marketing, pela mídia, pelo cachê, por um desejo do parceiro, muitas vezes irracional ou fora de propósito.
Pensem nisto e analisem quantas rugas, quanta obesidade, quanta ansiedade, quantas noites mal dormidas podem acontecer, quantas doenças podem surgir com o acúmulo de insatisfações... Apenas porque queremos fazer o que não podemos, ou mudamos nosso jeito de ser e fazer por causa do outro, ou ainda, fazemos coisas em horas, lugares e com pessoas errados, quando, nem nosso corpo ou espírito estavam disponíveis... E nós nem percebemos!
Fazer o que se pode, do jeito que se pode e quando se quer fazer... Bom, não? Afinal de contas, somos únicos e diferentes de todos.
[ Crônica por Yara Cilyn, no livro Presente da Arara Azul)
Um dia desses, encontrei-me no Shopping, com um rapaz que foi meu colega em um estabelecimento bancário. O mesmo rosto tranqüilo, quase nenhuma ruga, o mesmo sorrisão aberto, o mesmo olhar sedutor... Apenas uma barriga um pouco diferente, ou seja, maior. Ele estava sentado em um daqueles bancos, tranqüilamente olhando para tudo (ou para nada), quando o chamei:
- Luiz!
Ele procurou o local de onde saiu a minha voz e veio em minha direção.
- Você por aqui! Há quanto tempo... E aquelas costumeiras perguntas: e a família, os filhos, tem visto algum dos colegas? Etc., etc.
Após as perguntas e respostas, fiz uma viagem a jato, de volta ao banco, ou seja, uma regressão para uma época e fatos acontecidos há mais de trinta anos e lá estava eu, em frente à sua carteira de trabalho. Pilhas e pilhas de fichas de clientes, cadernetas para serem atualizadas, débitos e créditos para serem lançados, ordens de pagamento para serem adiantadas, cheques para serem compensados, enfim, um “mundo” de coisas para fazer. E tudo na máquina de datilografia, que nem era elétrica!!!
Luiz, tranqüilo, pegava um a um os documentos, analisava, conferia, separava, arquivava, tudo isto como se aquele fosse o único documento a ser trabalhado.
Eu perguntei:
- Para que dia é isto tudo? E ele, calminho, calminho:
- Para ontem.
- E você está fresco deste jeito? Quer ajuda?
- Não, obrigado, vá cuidar do seu serviço, eu dou conta e se não der...Fica para depois...
- Mas você não disse que era para ontem?
- Disse...Mas me deram para fazer hoje!
Sempre foi assim. Na época eu ficava admirada, principalmente quando, no dia seguinte, nos víamos no início do expediente e eu perguntava por todo aquele monte de papéis, e ele me dizia que foi tudo bem...Tudo foi resolvido. Como? Eu pensava... De que jeito?
“Acordei” da regressão e perguntei para ele:
- Luiz, você está igualzinho! O que faz sentado neste banco? E ele: estou esperando aquele caixa do Bradesco resolver funcionar, para tirar um dinheiro. Calminho, calminho. Como sempre foi.
- O que você faz para manter-se assim? Conta-me o segredo! E ele:
- Não sei de segredo nenhum. Só sei que só faço o que posso, do jeito que posso e quando posso.
Eis aí uma grande lição.
Não sei se o Luiz faz terapia, se lê livros de auto-ajuda, se faz meditação ou Yoga, se frequenta cursos, se participa de seminários ou vivências em grupo. Só sei que em 1975, por aqui, no interior da Bahia, e acho que em vários outros lugares, não se falava destes recursos.
Ele tinha inato esse “conhecimento” e o aproveitava naturalmente. Um privilegiado, com certeza. Um Zen.
Depois do encontro pensei: quantos de nós vivemos apenas o Agora? Fazemos um documento por vez?
Quantos se exasperam ao constatar que não conseguem fazer algo sem a ajuda do outro?
Muitos fazem o que não querem, apenas para agradar ao outro, trabalham em algo que detestam apenas porque “o dinheiro é bom!”
Outros possuem seu jeito próprio de fazer algo, mas deixa-se tolher pela modernidade, pela globalização, pelo “gosto do cliente” pelo apelo do marketing, pela mídia, pelo cachê, por um desejo do parceiro, muitas vezes irracional ou fora de propósito.
Pensem nisto e analisem quantas rugas, quanta obesidade, quanta ansiedade, quantas noites mal dormidas podem acontecer, quantas doenças podem surgir com o acúmulo de insatisfações... Apenas porque queremos fazer o que não podemos, ou mudamos nosso jeito de ser e fazer por causa do outro, ou ainda, fazemos coisas em horas, lugares e com pessoas errados, quando, nem nosso corpo ou espírito estavam disponíveis... E nós nem percebemos!
Fazer o que se pode, do jeito que se pode e quando se quer fazer... Bom, não? Afinal de contas, somos únicos e diferentes de todos.
[ Crônica por Yara Cilyn, no livro Presente da Arara Azul)