AS MÃOS E OS PÉS DO SENHOR
Os escravos são aos mãos e os pés do senhor” (A.J. Antonil, 1711)
Os navios negreiros nos tempos das colônias antigas traziam da África para a América os seres que viriam a ser escravizados no novo mundo para servir aos senhores das terras e arrancar delas o sustento e a opulência que alimentava as monarquias, aristocracias e outros apadrinhados ou aproveitadores desse regime de exploração, às custas exclusivamente do braço humano do escravo. Enchiam-se as embarcações e no seu interior as condições de sobrevivência para se chegar ao destino eram obra dos próprios homens e mulheres, alimentados parcamente a pão e água. Sobreviviam muitos, os mais resistentes e insistentes em ter esperança de que, do lado oposto do mar, em outras terras, fossem ter alguma dignidade. O resto, morrido, lançava-se ao mar para não apodrecer junto aos demais e estragar o que restasse da mercadoria. Essa parte da história e suas chagas e cicatrizes todos conhecem bem.
Muito, muito tempo se passou, a escravidão refrescou bastante, mas não acabou de todo. Foi mascarada em novas e modernas formas de trabalho. Fazendas, carvoarias, canaviais e cafeicultura muito ainda se utilizam desse disfarce. Volta e meia, vira e mexe, ouvimos, lemos ou assistimos a relatos de situações degradantes de extração de riquezas por esses métodos assustadores de exploração humana.
O mais moderno escravismo, no entanto, está sendo praticado nos navios luxuosos que transportam turistas mundo afora. Os endinheirados excursionistas têm destino certo mas os trabalhadores dos navios não. Nem lei que regule sua relação de trabalho. Existe salário, mas a jornada de trabalho é de no mínimo 10 horas dia, durante 6 meses ou 8 meses, sem direito a um dia sequer de folga. Os navios possuem até campo de golfe, mas a tripulação é alojada nos três últimos andares de baixo, ou seja, tem uma maravilhosa vista para o fundo do oceano. Já pensou em limpar xixi e cocô de 2500 pessoas durante esse tempo todo? Ou cozinhar para eles? São oferecidas bebidas aos tripulantes a preços sem impostos que deve ser para servirem de anestésico para o calvário. Dá para entender porque os escravos antigos tomavam tanta cachaça. O maior salário divulgado, para quem fala pelo menos três idiomas, não chega a 4.000 dólares. Mas nesses casos, brasileiro não é nem convidado a participar da seleção. Cozinheiro, então que seja experiente em tailandesa, alemã russa, japonesa e outras iguarias internacionais, além de ter que falar fluente inglês, não chega a 1.500 dólares.
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EM TEMPO: - Fui a uma palestra que visava atrair mão de obra para trabalhar em navios de cruzeiro aqui no Senac de BH.
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- Há uma agência de mercadores que contrata pessoal para trabalhar nesses navios. Chama-se Crew. Pelas condições oferecidas, pronuncia-se “creu” ou “crau”, dependendo de onde se quer levar a ferrada.