AS QUEDAS NÃO DESTROEM OS SONHOS
Nunca um abraço erguido, como se quisesse alcançar o céu, me pareceu tão belo e significativo. Naquele braço, que acenava para multidão, havia o peso e a responsabilidade de carregar milhares de sonhos. Esperanças alimentadas pela história de vida que ele construiu com trabalho e dignidade; aquele braço erguido sugeria a vitória do povo, daqueles que acreditavam em dias melhores. Eu estava entre eles.
Quem poderia imaginar que, anos depois, nos lembraríamos daquele braço - não mais como um estandarte de vitória da luta de um povo, ou um pavilhão onde hasteamos nossos sonhos e pregamos nossa fé em um país mais justo e equânime!? Aquele braço que arrancou tantas lágrimas de alegria, tantos sorrisos de emoção hoje é apenas mais um braço a exercer o poder sem muita diferença dos que o antecederam.
O braço que alimentou nossas esperanças foi o mesmo que provocou a queda de nossos sonhos. O braço, tantas vezes erguido em lutas por melhores condições de trabalho, de vida e salários mais dignos, ao guiar a mão que segurarava a pena que poderia assinar outros destinos, outros caminhos, preferiu seguir as veredas já conhecidas e viciadas, e o fez com a força destrutiva de uma metralhadora. Os caminhos que seus braços apontam já estão gastos por aqueles que preferem pisar nos sonhos a regá-los com o árduo trabalho de fazer diferente.
Como doeu vê-lo abaixar a cabeça - e a voz - diante dos que não querem um país para os brasileiros! Essa atitude foi uma grande decepção, um desalento aos que acreditaram e lutaram por sua escalada rumo ao poder. Pena, companheiro, que tudo, mais uma vez, não passou de um sonho.
Ainda acredito em um Brasil melhor e agradeço as ações positivas de seu governo, mas, confesso, decepcionada, que esperava mais, muito mais; mesmo sabendo que já não eras o mesmo – bastava olhar os acordos feitos durante a campanha –, ainda restava um fio de esperança, ou uma louca vontade de não ter lutado em vão, acreditado em utopias.
Hoje sei, meu presidente, que seu braço erguido foi a queda de mais um sonho, mas não o fim deles, que insistem em abrigar-se em meu peito, onde pulsa um coração genuinamente brasileiro.