DOÇURA



 
No quinto ano da faculdade, minha classe acompanhava, há meses, a análise de uma menina durante as aulas de Psicologia Infantil. A sala de observação era negra e os degraus de feltro lembravam uma pequena arquibancada. Sentávamos em frente ao largo espelho, transparente do nosso lado, enquanto do outro, lá estava ela, serena, disposta e atenta.


Há mais de um ano, a psicóloga prosseguia em sessões de ludoterapia com sua paciente: uma menina em interação muda junto aos brinquedos. Nenhum olhar ou uma palavra sequer dirigida à analista.


Observar o silêncio era uma tortura. E a força inabalável da profissional, um mistério. Conseguiria ajudar sua pequena cliente a sair de si mesma e assim, tornar a existência menos dolorosa? Quantas de nós teriam desistido diante do aumento das dificuldades, uma sessão após a outra?


O silêncio da menina era tão profundo, que muitas vezes, trocávamos olhares de agonia, em busca de sentido até que durante uma aula, a professora comunicou que estávamos dispensadas da observação. Daquele ponto em diante, seguiriam apenas as alunas em especialização. Algo, mais forte do que eu, me fez perguntar:


- Se meus horários permitirem posso seguir como observadora?


E um dos "sabores da alma" emergiu em sua resposta:


- Se você possui a doçura do otimismo será bem-vinda a bordo!     




(*) Imagem: Google
http://www.dolcevita.prosaeverso.net
Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 23/06/2009
Código do texto: T1663982
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.