coisas do dia
Coisas do dia
Hoje é um dia diferente, pois comemora-se aquele acontecimento que mexeu com todo mundo, foi por acaso que se descobriu uma mancha de sangue junto aos pertences pessoais. No papel higiênico caído ao lado do vaso tinha um risco de caneta. As revistas Caras nas prateleiras pareciam denunciar a podridão das gastanças na ilha dos abastados. Agora é fazer poesia e esquecer o que não foi possível ser mastigado.
O namoro de Terezinha e Gabriel continua sendo notícia na oficina de Paulinho, que parece não ter o que fazer, segundo dona Cora do corante. Mas é inacreditável mesmo! As palhas do coqueiro tiradas para cobrir a palhoça se perdem friamente no solo áspero, e quem pode desmentir as futuras previsões que ainda não foram ditas? Só com muito vigor se vence essa montanha de atividades.
Mas voltemos ao dia de hoje, que marca o que aconteceu no ano passado. Se não me engano, havia uma pessoa de blusa vermelha com letras garrafais que dizia umas palavras que não consegui me lembrar. Talvez seja pelo fato de a praça estar cheia e o carrinho de CDs e DVDs piratas tocando um som alto e agressivo.
A primeira vez que li uma revistinha em quadrinhos, confesso que ainda não sabia ler. Folheei as páginas e achei engraçado as expressões, mas quando me ensinaram o beabá, senti algo estranho quando o Dr. Destino roubou a namorada do Homem Borracha, mas mesmo sem saber o que era censo crítico, critiquei seus amigos fantásticos por não fazerem nada.
Assim, minha vida de leitor doido não parou mais. Por falar em doido existe algo mais antiético que alguns curiosos metidos a perito? Então preste atenção quando acontece um acidente. Vai juntando gente que deixa de fazer suas atividades normais para ver a desgraça. Um fato engraçado aconteceu nas imediações do parque municipal uns anos atrás. A discussão se alterou e um nervoso demais ameaçou um corajoso demais e, no final, o corajoso viu o revólver e decidiu encarar, esquecendo o desavisado que o S que ele tinha no peito fora tatuado lá na cadeia, e que não tinha o mesmo poder do Super-Homem. Entrou com tudo e tome-lhe estanho!
O danado agonizando, o Samu que ainda não atuava não poderia chegar por ali, e começou a juntar curiosos que gostam de comentar depois que foi forte e viu um cara todo ensanguentado. Como costuma dizer minha mãe, “flecharam feito urubu na carniça”. Um senhor de estatura baixa e barriga avantajada, usando um boné do Flamengo, tratou de aproveitar o crime e ganhar um dinheiro. Em poucos minutos, antes mesmo do bombeiro chegar, trouxe um carrinho de picolés, e ofereceu sem a menor cerimônia aos adoradores do mal feito. O carrinho esvaziou logo e só não refez a carga porque o infeliz foi direto para o CTI, acabando com os prazeres da multidão.
O mais recente estava no Shopping Popular falando ao telefone sobre a tragédia da Air France, sorrindo feito uma hiena desconexa, com ar de quem estava famoso no cenário nacional pela morte do conterrâneo no acidente. Ainda olhava em volta para sentir se estava sendo aplaudido:
- Pois é, cara! Cê viu? Tinha um montes-clarense lá no meio, tá pensano que nós é pouca bosta?
Mas vamos retomar o assunto que nos faz recordar o fatídico dia de hoje no ano passado. Bem... cada um recorde o seu, mas só o que foi bom. Principalmente se foi um chamego gostoso nas vésperas do dia dos namorados.