ISTO É CRÍTICA?




Afinal o que é crítica?


E o que é preferência pessoal?

Ser moderadora de uma comunidade de cinema me fez entrar em contato com estas questões, ao perceber a defesa do gosto pessoal como crítica.

Um erro que distorce o propósito e a função do pensamento crítico diante de uma criação, seja ela da sétima ou de qualquer outra arte.

Declarar que gostou ou não de uma obra é apenas tornar a preferência pessoal, pública.

Acompanhei distorções surpreendentes! Por exemplo: alguém, durante o filme, declara: "dormi". E nessa mesma linha: "gosto", "detesto", "chato", "um porre".

Isso é gosto pessoal ou crítica?

Se você acha que é crítica, não recomendo a leitura dessa crônica porque pode sentir sono, achar um porre, enfim, e o dia está apenas começando.

A meu ver, o maior desafio do pensamento crítico é reconhecer valor justamente onde não há o menor prazer no estilo, estrutura, gênero. Uma tarefa árdua e complexa.

E eu perguntaria: possível?

O crítico pode não gostar do estilo do cineasta, mas reconhece o valor de suas obras porque elas ultrapassam o sentido subjetivo de sua preferência pessoal.

E como se posicionar com este distanciamento diante do que ainda não é consagrado?

Uma coisa é admitir valor em criadores premiados e reconhecidos. Outra é olhar no anonimato, a criação de alguém que pode se tornar consagrado (ou não).

Quantos críticos se debruçam sobre o trabalho de muitos artistas e os condenam a um valor ínfimo? E algum tempo depois, aqueles mesmos artistas surgem, independente da crítica? Ou ao contrário: a crítica exalta e o público rejeita?

Até que ponto a crítica determina a formação de opinião do público?


Outra questão que me encanta, passa pelo ego. E esta frase não poderia soar mais egocêntrica!

Se alguém elogia o trabalho de um artista é seu ego que recebe e decodifica o reconhecimento?

Se a resposta for afirmativa, se alguém o critica negativamente, isso seria lido como um ataque pessoal?

Não é estranho confundir-se à crítica? Seja ela positiva ou negativa?

O caráter do artista está aberto à crítica junto à sua obra? Suas criações se misturam ao criador? Estão acima dele?


Ainda nesta questão da esfera pública versus espaço privado, penso que um político tem sua vida privada exposta porque interfere nas nossas vidas e nos representa efetivamente (pelo menos, em tese). Entretanto esta seria outra crônica bem mais crítica!


Um artista só nos "representa" se entrarmos em contato com sua obra e dialogarmos com ela. É um gesto voluntário. E livre.


E por outro lado, tão diverso e múltiplo como o ser humano. Os segmentos artísticos se comunicam com aqueles que desejam encontrar sentido naquele universo simbólico de criação.

Neste diálogo, genuíno, existiria a mais profunda razão para criticar uma obra. O pensamento crítico seria construído ao redor do que permaneceu vazio, vago ou intocado pela obra ou justamente acrescido pela criação.

Nossas lacunas podem (ou não) se deixar preencher pelo sentido de uma obra de arte. Seja ela um filme, escultura, dança, música, livro ou peça de teatro.


Resumo da ópera:


- Seria, então, cada um com a sua "tribo"?

- Criticar é, antes de mais nada, encontrar valor e sentido?

- O que é valor e sentido para mim é também para o outro?

- E para o crítico profissional? 


Não tenho (nem coleciono) respostas.


Respostas mudam. Questões permanecem.






(*) Imagem: Google

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Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 15/06/2009
Reeditado em 15/06/2009
Código do texto: T1649489
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