A GALINHA PRETA E A MACUMBA

A GALINHA PRETA E A MACUMBA

Quinquim era um homem danado. Bom trabalhador. Bom chefe de família. Bom camarada. Mas tinha o vício da cachaça nos fins de semana com os amigos de bar. E só voltava para casa depois do jogo de futebol na TV.

A mulher de Quinquim era uma modesta Amélia. Cuidava da casa, dos filhos e dos bichos de estimação. E, ainda, fazia faxina na casa de dois doutores da lei. Ela tinha a responsabilidade de pagar a conta de luz no fim do mês. Mariazinha aceitava o vício de Quinquim, porém, sempre o advertia de que um dia a casa ia cair: Ela ia dar no pé com as crianças e o cachorro Totó. E não deixaria rastro para ele não ir atrás dela.

E aconteceu numa sexta-feira de abril. Mariazinha partiu para longe, deixando o marido sozinho na casa da família.

Quinquim quase endoidou! E agora o que fazer? Pensou ele.

Já era noite quando o homem foi até o bar. Em lá chegando contou o ocorrido para os companheiros. O dono da bodega deu uma ideia para Quinquim: Fazer um despacho para Mariazinha voltar para casa. O homem, aperreado, aceitou a ideia. Tomou um gole da ¨branquinha¨ e pendeu para o lado da Barroquinha onde havia um terreiro afro. Ele foi chegando devagarinho, meio sem jeito, meio desconfiado, meio sem coragem... E chegou até o portão da casa negra. No portão bateu palmas. Um cachorro veio atender rosnando e latindo. Bateu mais palmas. E uma preta-velha apareceu o rosto. Quinquim, meio sem fala, disse à mulher a que viera. A mulher então o mandou entrar e aguardar o pai-velho. Surgiu o homem de cabeça branca e fumando cachimbo. E ele falou e disse:

- Pois não mi zi fi... Fala qui pai-veio escuta. Sua mulher foi embora de casa, né?

O Quinquim ia abrir a boca mas o pai-de-santo falou e disse novamente:

- Preocupa não... A notícia aqui corre a boca-pequena... Mas pai-veio traz ela de vorta pra sum cê... Entra em casa vamos conversar um pouco...

E Quinquim adentrou a casa negra. A conversa não foi demorada e o aperreado homem saiu rápido indo direto para o mercadinho onde comprou uma galinha preta com algumas penas brancas, uma garrafa de pinga, farrofa pronta e milho cru. E rumou para a casa negra com a encomenda numa sacola preta. Bateu palmas no portão e o pai-velho mandou Quinquim adentrar ao terreiro. Eles foram para uma sala ampla e cheia de totens afros. O pai-de-santo falou e disse:

- Mi zi fi, trouxe o encomendado?

- Sim, respondeu Quinquim.

- Deixe-me ver - falou o preto-velho-homem.

O homem pegou a galinha examinando-a. Olhou a garrafa de pinga e tudo o mais. Por fim falou e disse outra vez:

- Mi zi fi, a galinha não serve... Tem penas brancas... Vorta lá e traz otra... E paga em dinheiro a preta-velha...

Quinquim falou:

- Mas a esta hora...

Então ele pensou numa solução honrosa: Ir ao bar, pedir o Zé pintor para irem à oficina e pintarem a galinha de preta. Dito e feito... Não deu outra: Zé pintou a galinha... A tinta secou rápido...

Deixe estar... Antes da meia-noite Quinquim chegava ao terreiro afro e por fim o trabalho foi feito. O homem foi para casa esperançoso e aliviado: Tinha cumprido sua missão. Agora era só esperar a volta da mulher, dos filhos e do cachorro Totó. E ele dormiu satisfeito da vida.

Amanheceu o sábado. Quinquim fez café. Tratou dos passarinhos e ligou a TV. E o dia foi-se embora. Nada da mulher aparecer em casa.

Outra noite chegou. E amanheceu o dia, e o dia ficou velho, e a tarde chegou e logo logo viera a noite e nada da mulher surgir à porta do barraco...

E chegou a segunda-feira. E Quinquim foi trabalhar...

Terminou o dia. Quinquim voltou para casa... E... E... Surpresa: Nela estavam sua mulher, os filhos e o cachorro. E ele prometeu à Mariazinha que nunca mais beberia uma gota de cachaça nem pinga.

E viveram felizes por muitos e muitos anos.

F I M.

Limagolf