MAIS UM COPO DE ÁGUA PARA MIM

MAIS UM COPO DE ÁGUA PARA MIM.

Marília L. Paixão

Antes a água era para a Zélia. Mas para ela não derrubar mais água lhe ofereci uma bandeira desamada como tema.

- Vou ter que falar sobre o país? Ela perguntou. – Claro! Eu respondi.

Ela não me pareceu insatisfeita. Falou até que de agora em diante só ia escrever sobre política.

- Nada de radicalismo. Não se pode pintar uma vida só com uma cor. Vai que depois você cansa do verde “cheguei” como o que pintou sua casa e ai?!

Nem me lembrei de falar para ela sobre as duas batidas sofridas pelo meu corpo, mas maiores foram as reflexões que tive depois disto. Uma delas foi no sábado de manhã dentro do banheiro às 10 horas e a outra às 10 da noite. A queda foi tão forte que me assustei mais com o barulho que com a dor. Até quem estava na sala ouviu.

- Que barulho estranho foi este ai?

- Nada não! Foi minha testa que bateu na pia com muita força eu só ia ajeitar minha meia.

- Credo! Deixe-me ver!

- Não encosta não que tá doendo.

- Tadinha...

- Será que isto vai me diminuir a inteligência?

Acabei de me arrumar e dirigi até São Paulo e passei o dia em dois shoppings! Como é bom fazer compras! A terapia é tão grande que esquecemos de tudo! Estava eu lá bem olhando os pães da padaria do hipermercado e começo a escorregar diante os italianos. Tentei evitar a queda, mas não deu! Eu dei foi com um dos joelhos no chão. Desta vez não precisei contar. Estavam comigo e viram. Uma senhora assistiu minha queda em câmera lenta, ela olhava os mesmos pães e ofereceu a mão que segurei ao levantar com dificuldades. O vilão era um pedaço de véu branco que estava no chão. Tudo doía. O joelho doeu dez vezes mais que a testada na pia que foi muito mais forte que aquela queda. Depois que a senhora largou a minha mão continuei andando até aos meus acompanhantes e me rendi feito criança querendo colo. Mal me mantinha em pé de dor.

Precisava de um copo de água e de raciocínio que direcionasse a uma explicação de Deus para aquelas duas quedas no mesmo dia.

- O que será que é isto? Será que Deus está tentando me dar alguma mensagem? Será que na próxima eu morro?

- Credo! Deixa de bobagem. Pura coincidência!

- Eu não quero bater mais nenhuma parte do meu corpo em lugar nenhum.

- Você não vai bater mais nada querida. Quer mais um copo de água?

Lembrei-me do último copo de água, tema que escolhi para a Zélia e respondi:

- Quero. A cara era de dor, mas diante a água dei um novo sorriso.

É sempre boa a lembrança dos amigos.

Depois do shopping a programação era ir para uma casa noturna. Com o joelho dolorido e um bar que teria que achar o bairro para depois achar a rua e sem saber que o que Deus me dizer com aquelas duas batidas só faltava bater o carro no lugar do corpo, depois morrer e tudo bem. Vê como a dor nos oferece dramas?

Mas como já passavam das dez da noite e nem tinha escrito a crônica sobre o Victor Hugo falando da morte, não queria morrer antes disto. Talvez as quedas foram para marcar o início de uma nova idade e ter desistido do bar uma consciência disto. Esqueci os dramas e procurei o caminho de casa. Parei num Graal para jantar e prossegui a viagem. O dia já tinha sido bem emocionante. Acho que Deus abençoou aquele último copo de água. Cheguei em casa sem bater mais nada! Só as teclas deste texto.

------------------------------------------------------------------

Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 01/06/2009
Reeditado em 01/06/2009
Código do texto: T1626047
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.