a lâmpada mágica
A LÂMPADA MÁGICA
Certa vez um pobre desdentado, maltrapilho e solitário passeava com sua aparência suja sem saber onde chegaria, chutando latas para encontrar comida achou alí no meio do lixo uma lâmpada, como nos contos das Arabias era uma do mesmo formato daquela que aparecia um gênio, olhou, olhou e olhou... coçou a cabeça que padecia de pediculose e com a mesma mão também coçou a regueira que divide as nádegas. Fantasiou pedidos e lembrou-se da sorte desgraçada que o acompanha e voltou a lampada para o lixo, indo embora com a consciência meio abalada. Ao dobrar a esquina viu um ferro velho, imediatamente veio a idéia de vender o achado ao menos para conseguir umas moedas para uma pinga. Voltou e por pouco a catadeira de papel não achava. No Ferro Velho o moço descobriu que se tratava de objeto de cobre, pois o Proprietário do lugar observou com preciosidade de quem reconhece alí algo mais que um simples adorno. Pagou 20 reais pela lâmpada e em tom de brincadeira disse que se dalí saisse um gênio, lhe daria mais dinheiro. Estas palavras fustigaram o mendigo, feliz por estar vintado mas ao mesmo tempo também em dúvida se á lâmpada possuia ou não um gênio que sendo liberto concederia os 03 pedidos, de qualquer que fosse a espécie.Parou de pensar um pouco e entrou em um boteco para lavar a garganta com uma golada de cachaça, quando pagou com a nota de dez duas vezes chamou atenção de uma cigana que estava por alí tentando golpe em um desavisado. Correu imediatamente para a porta esperando o maltrapilho sair com seu cheiro de falta de banho. - Moço, ô moço! a sorte esta lhe chamando! vejo uma fortuna na sua vida! -oxe! qui furtuna muié, tá doida? é o seu destino moço, está escrito, mansão, carrões, mulheres lindas, está tudo aqui! olhando em um papel de desenhos estranhos com simbolos desconhecidos a cigana o convence a ler sua mão e lhe dar tudo que lhe restava do troco, quando perguntou a ela se o dinheiro que ele ganharia era de um gênio a ardilosa faceira disse sim. Agora a cabeça com a pinga incendiava, o arrependimento por ter vendido a lâmpada martelava dolorosamente, qual seria a maneira de recuperá-la ? não tinha os 20 reais para devolver nem outro mecanismo de troca, e pensou em furtar o seu tesouro, aproveitou o horário de chegada de mercadorias para avaliação do dono e entrou no escritório, lá em cima da prateleira de troféus a lâmpada estava linda lustrada com um brilho dourado fascinante, no seu bico um insenso odorante era queimado e exalava um fumaça sutil e relaxante. Aquilo foi o basta! totalmente possesso por achar que o gênio já estava saindo, que subiu numa mesa e desgovernou caindo e provocando um enorme barulho. Os funcionários e o chefe optaram por fazer a própria justiça, sem envolver a polícia deram uma surra de fio de ventilador que o pobre visionário escapou cheio de hematomas pelo corpo e fezes pernas abaixo. Foram dias de gemidos pelas dores intermitentes, mas a resistência ao ideal ajudou curar as feridas, e novamente as idéias de reaver a lâmpada voltaram a azucrinar na cabeça.
Temendo apanhar novamente o mendigo resolve ser prudente, de volta ao Ferro Velho depois de receber muitas ameaças consegue falar com o atual dono do objeto, com muita cadência propõe uma sociedade, dizendo que dentro da lâmpada mora um gênio e que ele que achou faria um pedido e o comprador faria dois. O comerciante , que era mais racional resolveu brincar com a abstração do coitado e aceitou a proposta, na condição de que ele lhe pagasse mil reais no prazo de 30 dias. -oxe moço, cumé qui vô rumá mil real, si num tenho nem uma nica mode comprá pão. - Se vire meu amigo, que você não é quadrado!. toma emprestado, com seu pedido ao Gênio você paga!! e virou-se dando gargalhadas. Mesmo assim aceitou o desafio e saiu desvairado pensando o que fazer, vislumbrando a infinitude do pedido que seria logo após o pagamento, este mil reais, ficaria barato. Mas o que fazer? roubar, matar alguem para tomar ? não nada disso ele queria, então iria trabalhar, mas como? se não tinha profissão nem carteira profissional, ou melhor não tinha documento nenhum. Zanzando para cima e para baixo, sem conseguir pensar em como ganhar o dinheiro, resolveu agir, lembrou-se que de todo este tempo que vive na penumbra as portas se fecharam por causa da sua aparência, então tomou coragem e abordou um policial, na conversa disse que queria mudar de vida arrumar emprego e ganhar dinheiro, para pagar o pedido a um gênio, a autoridade analisou para ver se havia algum efeito de drogas ou álcool, fez algumas perguntas para ver se era doido, e lhe indicou um local de ajuda, onde ele recebeu roupas novas e tomou banho. Neste mesmo lugar foi informado de como retirar os documentos que precisava, inclusive com carta de indigente para se livrar da taxa. Uma semana depois já era cidadão, Identidade, CPF, Titulo de Eleitor e até um Santinho de candidato para a próxima eleição estava junto. Agora era trabalhar pois só restava 03 semanas para findar o trato, mas onde? tinha apenas a 5ª série mal feita lia gaguejando e escrevia com dificuldade. Uma hora destas na praça olhando para todos os lados, imaginando de onde poderia vir o trabalho, percebe algo estranho no meio dos passos apressados que habitam e desabitam o lugar, um senhor idoso era levado por um sujeito que fingia abraçá-lo mas estava com uma arma subentendida, seguiu calmamente e no momento de entrarem em um carro que esperava na tocaia, deu um empurrão no senhor e se atracou com o marginal e a arma caiu, o carro fugiu mas o principal foi detido. A vitima contou a policia que estava sendo levada para o caixa eletrônico, e que se não fosse a coragem daquele cidadão, não sabia o que poderia acontecer com sua vida. Tratava-se de um rico empresário que o recompensou com cinco mil reais e um emprego de chefe de segurança pessoal dele, com direito a todos os tipos de treinamento e um salário de 2500 reais mês. A vida ordinária de antes se transformou agora em laboriosa missão, foi morar em um apartamento cedido pela Empresa e tinha todas as mordomias que a posição lhe conferia. por estar ao lado do chefe tinha mulheres lindas para os mais prazerosos favores. Passaram-se dois anos quando se lembrou da lâmpada e do gênio, com o senso crítico capaz de analisar suas razões, resolveu ir até o Ferro Velho, quando desceu do carro de luxo com seu terno engomado e oculos escuros o proprietário tocou um sino e o corre corre para esconder produtos receptados foi geral, temendo que fossem os Federais, o mesmo que lhe tratara com tanto desprezo a dois anos agora se derretia e o chamava de doutor. Dentro do escritório a lâmpada empoeirada estava no mesmo lugar. A surpresa do receptador de cobres e bocas de bueiros se deu quando o ex-mendigo lhe entregou os mil reais e pediu a lâmpada, sem graças ainda argumentou que naquele dia fez apenas uma brincadeira, pois sabia que era impossível que um maltrapilho sem perspectivas como era o caso conseguir tal quantia. A resposta foi curta: - "todos nós precisamos de incentivos na vida, para sairmos da cômoda posição vegetativa. Eu só descobri que precisa ser alguem quando a ansia de fazer o pedido me provocou". E nós prezados leitores, será o que está faltando para sairmos desta posição de mendigos?... ir a luta brava gente Brasileira!!.