Por que resolvi escrever biografias particulares.

Eu sempre fui fascinado por escrever. Na verdade, não é exatamente escrever: é brincar com as palavras, criar com elas novas imagens e sensações. Isso eu faço desde moleque, lembro das cartinhas que escrevia no dia das mães e dos pais cheias de poesia, lirismo até. Sem muita pretensão, livre e sem o compromisso de escrever direito, de escrever bonito. Talvez seja essa a mola que sempre vem impulsionando-me com o pretexto da criação. No fundo, essa deve ser uma coisa que nasceu comigo e, certamente, virá junto com o último punhado de terra naquele dia do qual não podemos fugir. Certo dia peguei um táxi e o motorista desandou a contar a sua história de vida. Uma história como de qualquer outra pessoa, com vitórias, derrotas, amores correspondidos e nem tanto, choros e alegrias sem fim, enfim, um roteiro real e que poderia ter sido o seu, o meu, do vizinho, da nossa avó ou daquela criatura que vive do outro lado do mundo.

Ao dar o troco, ele confidenciou que a sua vida mereceria um livro, mas como ele era um simples motorista de praça, isso nunca iria acontecer. Desci do carro e, aquele jovem publicitário então com 24 anos, sacou que deveriam ter milhares de outras pessoas não famosas com histórias super interessantes para contar, mas ninguém para escrever. Juntei todo dinheiro que tinha e coloquei um anúncio no Estadão, intitulado "Sua vida daria um livro?", que terminava o texto com a frase "viver é importante, mas preservar a sua experiência é fundamental". Naquela tarde, o meu telefone ficou até rouco de tanto tocar: recebi mais de 90 ligações, dos quatro cantos do país, e fui procurado para dar entrevista na TV, revista, jornal e rádio. Até a revista americana Time fez uma matéria comigo, pois não tinham registro, até então, de alguém que se propusesse a fazer esse tipo de trabalho.

Pronto. Estava nascendo, em 1981, o primeiro biógrafo brasileiro de pessoas não famosas. Ao longo desses 28 anos, muita coisa aconteceu: daquele garoto, com jeito de hippie, datilografando na sua Olivetti até esse senhor, agora com 51 anos, que hoje faz um livro com projeto gráfico como dos livros de arte, que faz poesias para ilustrar as fotos, que consegue desenvolver textos que não são meros apêndices descritivos, mas que passam emoção, algo raro nos dias de hoje e que faz com que as pessoas façam uma volta no seu tempo, resgatando e compartilhando momentos únicos. Para garantir a privacidade do biografado, todo o projeto é realizado no mais absoluto sigilo e, ao final, ele receberá apenas um exemplar da sua obra, para ele se deliciar e dividir com quem quiser (talvez apenas consigo mesmo). O objetivo desse texto não é fazer propaganda desse trabalho, apesar de ser algo profissional que faço em paralelo à minha atividade principal, mas mostrar para você que algumas coisas nessa vida estão de tal forma atreladas ao nosso sonho que, por mais que tentemos nos afastar dele, sempre voltamos ao ponto original. Fui redator, diretor de marketing, dono de agência, diretor de criação, diretor de comunicação de uma prefeitura, vendedor de limpeza terceirizada, marketeiro de rede de lavanderias e muitas outras coisas mais, mas o que gosto mesmo é de escrever, inspirado na sua vida, do seu vizinho, do seu avô ou daquela criatura que vive do outro lado do mundo. Quem sabe se, num dia desses, terei a oportunidade de transformar em livro a história da sua vida, incluindo as suas fotos de uma maneira criativa e muito bonita. Será uma grande viagem abordando somente o que você quiser registrar, e preservar, a partir da sua ótica (como será um livro único, esse será um importante diferencial). Mais do que uma tarefa, um maravilhoso desafio e um privilégio muito especial.