HAJA DINHEIRO...
Os moradores da comunidade onde vive o Seu Praxedes sabem de cor e salteado que ele é um homem do meio rural dotado de uma série de hábitos muito simples e totalmente desprovido de atitudes interesseiras. A sua marca registrada, dentre as inúmeras manias diárias que o perseguem, é aquela voltada para compra de remédio por conta própria, visando à automedicação.
Afora as consequências advindas desse seu incurável problema de saúde, ultimamente ele tem andado meio chateado com os comentários jocosos que algumas pessoas de seu relacionamento familiar e religioso têm feito a seu respeito.
Afora as consequências advindas desse seu incurável problema de saúde, ultimamente ele tem andado meio chateado com os comentários jocosos que algumas pessoas de seu relacionamento familiar e religioso têm feito a seu respeito.
O mais recente deles faz referência ao fato de ele, de uma hora para outra, ter se tornado um frequentador assíduo das atividades religiosas de uma das igrejas da sua comunidade e ter de pagar o dízimo que lhe é exigido mensalmente e ao mesmo tempo arrecadar donativos para ajudar às pessoas mais necessitadas.
A maioria das pessoas de sua comunidade também tem conhecimento que ele é uma pessoa pacata, ordeira e respeitadora, incapaz de se indispor com quem quer que seja, por mais grotesca que seja a ofensa a ele destinada.
- Ele tem um coração muito generoso, principalmente quando o assunto é ajudar as pessoas mais necessitadas – comenta uma pessoa de sua família.
- Ele não se importa de acordar cedo e sair para visitar as pessoas das regiões mais afastadas de sua comunidade, visando à orientação eficaz no tocante ao combate à dengue – afirma uma agente comunitária da Unidade Básica de Saúde do seu município.
Deixando um pouco de lado a sua modéstia, ele mesmo tem conhecimento do quanto tem sido útil às pessoas de sua comunidade, mas o que mais tem lhe incomodado nos últimos dias são as consequências trazidas por um boato jocoso que anda circulando na vila onde ele mora...
As más línguas estão comentando que além do dinheiro gasto na farmácia local com a compra dos seus remédios habituais, ele tem transferido quase todos os trocados de sua minguada economia para uma entidade religiosa que ele anda frequentando nos últimos dias, na esperança de conseguir um passaporte definitivo para o céu, bem antes de morrer.
Algumas pessoas acham que ele está sendo enganado, que não é dessa forma que ele chegará ao Céu, mas outras não... Todavia, essa incerteza e/ou impossibilidade de não ver realizado esse seu desejo, mesmo sabendo que isso só poderá ocorrer quando ele partir dessa para outra melhor, o tem deixado cada vez mais doente.
Haja dinheiro para a compra de mais esse remédio...