Então fui eu!

Eu comia um pastel na feira de domingo, desses enormes que nos fazem almoçar às quatro da tarde, quando um homem passou por mim e deu-me um papelzinho. Um santinho de candidato para a eleição que se aproximava. Quando ia jogar no lixo, reparei que a foto no papel era a do próprio homem que entregava. Era ele o candidato. Nunca tinha me acontecido isso antes e acredito que a poucos na cidade. Geralmente, a gente pega santinhos das mãos de pessoas que trabalham para o político. Mas, das mãos do próprio, era novidade.

Corri atrás dele e perguntei se era ele mesmo o postulante a um cargo em nossa câmara municipal. O homem abriu um sorriso e disse que sim. Então, questionei-lhe sobre o inusitado. Ele me disse que pertencia a um pequeno partido político, que, como ele, pela primeira vez concorria às eleições. Não tinham dinheiro. Cada candidato tinha de se virar sozinho.

Ele me contou que tinha muitas propostas para apresentar às pessoas. No entanto, não cabiam no pequeno santinho. “Só deu pra colocar minha foto, meu nome, meu número e esta frase aqui: ‘contem comigo’ ”. Dito isso, sumiu na multidão estendendo a mão e os santinhos, que as pessoas jogavam fora, sem ao menos ler.

Uma semana depois das eleições encontrei o homem novamente na feira. Dessa feita, estava comprando um quilo de batatas. Perguntei-lhe se tinha sido eleito. Contrariado, ele disse que não, mas que ia se preparar melhor para o próximo pleito.

-Puxa vida, votei no senhor, pensando que seria eleito, disse-lhe.

-Muito obrigado, meu filho. Então, foi você?