NOTÍCIA DE UM SUICÍDIO
Chega-nos a notícia do suicídio de Honorato, um morador aqui da cidade. Ele era Escrivão de polícia há muito tempo. Sua esposa é professora no ensino fundamental em escolas daqui. Ainda ontem ele cruzou por mim no camburão e cumprimentou-me com um aceno de cabeça. Parecia estar tudo bem com ele. Parecia. Nem sempre aquilo que vemos representa a realidade. Há pessoas que escondem muito bem o que se passa em seu interior. Não sei por que Honorato suicidou-se. Talvez por depressão, dificuldades financeiras, desentendimentos conjugais, sei lá. Fica a especulação. O fato é que perdemos um amigo. Raramente nos víamos e conversávamos, mas me lembro que ele era uma pessoa inteligente e que lia bons livros.
Não muito tempo atrás um outro suicídio abalou a cidade, o do ex-prefeito Nicanor, conhecido por todos como Ninito. O destino não foi muito bom com ele. Depois que deixou a prefeitura, Ninito separou-se da mulher e foi trabalhar em uma van, transportando passageiros para Campo Grande, numa vida simples e de solidão. Nos tempos de prefeitura ele era rodeado de amigos, tinha a melhor casa da cidade e vivia em total conforto. A crise financeira abalou-o e levou-o a desferir um tiro em sua barriga.
O suicídio não é um fenômeno exclusivo dos tempos atuais de globalização da miséria, da pobreza, das desigualdades, das doenças, das quedas das bolsas de valores e do desemprego. Vemo-lo também em outras épocas, paises e camadas sociais. Maiakovski, poeta russo, suicidou-se em 1930, na Geórgia. Seguindo seu exemplo, Virgínia Woolf, escritora inglesa, autora do célebre “Orlando”, suicidou-se em 1941, nas águas do Rio Ouse, no condado de Sussex, Inglaterra. Outro suicida foi Ernest Hemingway, famoso escritor norte-americano, autor de inumeráveis romances, entre os quais “O sol também se levanta”, que se matou em 1961, nos Estados Unidos, com um tiro na cabeça, disparado pelo mesmo fuzil de caça com que o pai se suicidara em 1929.
Não sei como as religiões, os psicólogos e os cientistas explicam o suicídio. Nunca li nada a respeito, por falta de curiosidade. Contudo, não compactuo com a idéia de que o suicídio seja um ato de fraqueza e covardia. Acredito justamente no contrário. É preciso muita coragem para dar cabo da própria vida. Algo que só os fortes têm. Semelhante ao que podemos ver na “Canção do Tamoio”, de Gonçalves Dias.
Particularmente, não concordo em que se cometa o suicídio, por qualquer que seja o motivo ou as circunstâncias. Se fomos agraciados com a dádiva da vida, temos a responsabilidade de viver até que a morte aconteça, naturalmente. É o que pensa Paulo Coelho, em “Ser como o rio que flui”: “temos que agir como se o tempo existisse, fazer o possível para valorizar cada segundo, descansar quando necessário, mas continuar sempre em direção à Luz Divina, sem deixar-se incomodar pelos momentos de angústia”.