MORTE EM SÃO LUÍS
Acerola foi o rei do tráfico no Rio de Janeiro, onde comandou centenas de seqüestros, roubos e assassinatos. Ficou marcado pela polícia e antes que se desse mal, decidiu mudar para São Luís, no Maranhão, de onde redistribui para toda a Europa a cocaína vinda da Colômbia.
Carrapicho tornou-se escritor na França. A sociedade com Acerola terminou no dia em que ele fugiu com todo o dinheiro conseguido no roubo ao Banerj. Instalou-se em um apartamento em Montparnasse, o bairro preferido dos pintores e escritores em Paris, fez uma plástica no rosto e mudou o nome para Demóstenes Brasil. Estudou francês e começou a publicar seus pequenos livros, com os quais ficou conhecido no meio literário dali. Num seminário de escritores em Lyon topou com José Sarney, de quem ficou amigo. Conhecia toda a obra do ex-presidente e sabia de cor os poemas de “Os Maribondos de Fogo”.
O presidente da Academia Maranhense de Letras decidiu convidar Demóstenes Brasil para a palestra de abertura do Congresso de Escritores daquele ano. Para tanto, recorreu aos préstimos do Senador e Acadêmico José Sarney. A confirmação veio horas depois, num breve telefonema: “Toca o bonde adiante, o Demóstenes vem”.
Acerola adquiriu o hábito de ler todos os dias as notícias na internet. Foi ali que soube da vinda de Demóstenes a São Luís. Reconheceu sem muita dificuldade o rosto do ex-sócio na foto da matéria. Riu com ódio e sarcasmo: “então o filho da puta agora é escritor!”. Pegou o celular e ligou imediatamente para o Esquerdinha, seu “fiel escudeiro” em São Luís: “Mano, dá um pulo aqui, tenho um servicinho extra para ti”.
Demóstenes deixou Paris às 21:50, chegou no Galeão, no Rio, às 05:00, e embarcou às 09:00 no voo da TAM para São Luís, aonde chegaria por volta das 14:10, de acordo com as informações da funcionária do check-in. Exatamente nesse horário o avião pousou no Aeroporto Internacional Marechal Cunha Machado. Dali ele ligou no celular do presidente da AML, que o instruiu a tomar um táxi e ir direto para o Pestana São Luis Resort Hotel, onde ficaria hospedado. Um funcionário da AML o esperaria ali, para as providências de praxe.
Na Avenida dos Franceses o táxi foi interceptado. Dois homens com capuzes e metralhadoras puseram Demóstenes em um Sedan preto e seguiram com ele por um labirinto de ruas e avenidas até São José de Ribamar.
Quando Demóstenes viu-se frente a frente com o ex-sócio, não teve duvidas de que iria morrer. Então se lembrou das palavras que Paulo Coelho escrevera em “Ser como um rio que flui”: “Embora a vida continue, e sejamos todos eternos – esta existência vai acabar um dia”. Uma semana depois seu corpo foi encontrado na Baía de São Marcos, com três perfurações de bala na cabeça.