SALAMALEQUES
Políticos gostam de salamaleques. Mostram-nos diariamente isso a televisão, os jornais e as revistas. Lula, por exemplo, adora um tapinha nas costas, uma palavra de elogio dos jornalistas e do povão, e um mimo de reis e governantes dos paises que visita. Não raro vemos este e aquele deputado recebendo uma propinazinha de um banqueiro, tipo Daniel Dantas. Em cidadezinhas do interior, como a nossa, os salamaleques são as bajulações de puxa-sacos, jornalistas e radialistas, como bem o demonstra a novela “O Bem-amado”, de Dias Gomes. Estão lembrados? O prefeito Odorico Paraguaçu, de Sucupira, não vivia sem as bajulações do seu secretário, Dirceu Borboleta, e do apoio incondicional das irmãs Cajazeiras, suas correligionárias e defensoras fervorosas: Dorotéia, Dulcinéia e Judicéia.
Escritores adoram salamaleques. Na biografia “O Mago”, Fernando Morais revela o lado vaidoso de Paulo Coelho, que buscou incansavelmente a fama e o reconhecimento mundial como escritor e sempre adorou um salamaleque, seja um elogio sobre um livro seu nos jornais, seja um banquete de sua editora no Bois de Boulogne, em Paris, ou uma casa ganha de presente em Dubai. Em “Navegação de Cabotagem”, Jorge Amado confessa o amor pelos flashes dos repórteres, as adulações de governantes e compadres. Carybé, pintor argentino que veio para o Brasil e fixou morada em Salvador, presenteava-o constantemente com suas gravuras. Todos os presentes que Jorge Amado ganhou, mundo afora, estão expostos na Casa do Rio Vermelho, onde morou, até a morte, com sua mulher Zélia Gattai, falecida recentemente.
Jogadores, Músicos e artistas, de um modo geral, gostam de salamaleques. O tal do “bicho” que os jogadores recebem após as partidas, são salamaleques (dados pelos presidentes dos clubes, que, afinal, enriquecem explorando os craques), assim como os carros e prêmios em finais de campeonatos, além, é claro, das bajulações dos programas esportivos das TVs e dos jornais. Músicos não vivem sem os gritinhos histéricos das fãs. Lembram dos Beatles e dos cabeludos da Jovem Guarda? Atores de cinema e televisão, por sua vez, não vivem sem o assédio dos paparazzi, dos programas de auditório e das cerimônias de premiação, como o Oscar.
Pensando bem, quem não gosta de salamaleques? Gente foi feita para brilhar, como diz Caetano, na famosa canção. Que se acendam, então, as luzes da ribalta. Salamaleques para mim e ti.