DEVAGARZINHO, MAS SEM DEMORA.

Marília L. Paixão

Olhos cansados, coração aberto, cortina cerrada e o ser sai da cama a caminho do dia.

Os passos parecem pesados para um Bom dia, mas acha que tudo pode dar certo assim mesmo. E corre ao banheiro e depois ao café. Nem o café da conta do cansaço daquele dono.

Lá fora todo agasalhado sem nenhum recheio de trufa por dentro, continua achando o dia frio como uma canção que não conseguiria ninar nenhum bebê. Vai ao trabalho, vai ao banco, vai ao mecânico e depois volta para casa a olhar a cozinha insatisfeito. Qualquer dia daria um jeito naquela casa sem mulher. Ainda restava uma conta para ser paga em dois dias. Havia tantas outras coisas que lhe diziam mais coisas da vida que uma simples companheira para realçar-lhe os irremediáveis defeitos...

Outro café?! Não! Uma dose de café a mais pode ser o limite de uma irritação inadequada. Estende o olhar até o terreiro e vê que uns passarinhos piam mansamente. Será que são felizes os animais pequeninos? Pensa enquanto olha a paisagem por um segundo. Tantas coisas importantes que não podem ser arquivadas e esquecidas...

Boa hora para abandonar o texto. Abandonar ali depois das coisas que não podem ser arquivadas e esquecidas? Sim! Um ponto bom para recomeçar depois. E não se esquecer de incluir no texto que ninguém questiona o porquê dos idiotas estarem sempre sós. Agora era hora de acenar para um passarinho.

Um bem pequenininho se aproximou todo confiante.

- Diga ao Dagger que ele já pode sair do castigo.

O passarinho foi num vôo só. Mas não demorou e voltou sozinho.

Eu que já esperava ver o meu menino...

- Ele quer saber se pode vir correndo te dar muitos beijos ou se deve vir devagarzinho.

- Diga então que é devagarzinho, mas sem demora. Também estou morrendo de saudade dele.