Simples não é fácil

Um alto grau de comprometimento com a realidade é esperado no inventário de perdas e ganhos da maturidade. Na idade da irresponsabilidade, o que se aguarda, e em geral desponta, é fantasia – a primazia da abstração sobre o concreto, do ideal sobre o possível, da imaginação sobre a razão.

Quando o pragmatismo precoce invade o território adolescente, questiona-se como preocupante a troca efetuada. Como se na apreensão primária do mundo, o universo racional em formação ainda estivesse tosco para conceber soluções rápidas, reações objetivas e respostas simples.

Atribui-se a Albert Einstein a compreensão de que tornar as coisas simples não é simplificar as coisas. Pois a simplificação pode levar ao erro comum de confundir o simples com o fácil. Nem sempre é assim.

Na adolescência, o cérebro dispõe de massa de fantasia suficiente para, talvez, produzir uma objetividade e uma clareza que, depois, na vida adulta, muitos encontram dificuldade em formular. Não por acaso, é também de Einstein a afirmação de que a imaginação é mais importante que o conhecimento. Mais importante para que? Para criar, para inventar escapes nos becos sem saída da razão.

O que seria impossível ao exame da mente madura, é apenas a conjectura de outra opção para aquela despojada da complexidade de visões de mundo entrecortadas. A experiência, de fato, pode atrasar, em alguns casos, ao invés de acelerar a decisão. Se depositar só obstáculos e distorções na capacidade de discernimento, a experiência pode mesmo impedir qualquer sucesso na escolha.

O aparente descolamento juvenil do plano real pode ser vantajoso na hora em que o maior comprometimento é requerido. Sem baú onde revirar, sem cicatrizes em que mexer, o ser imaturo dispõe de uma gama de possibilidades lógicas que não aparecem logo a quem possui a visão turva pelo acúmulo de material envelhecido.

Por outro lado, a imaturidade tem um prazo que o fardo temporão de responsabilidade, por si, não encerra. A luz da inexperiência é necessária, iluminando aquilo que falta, o caminho virgem, os tropeços e os desvios que fazem o crescimento.

Reconhecer um desvio é olhar de frente o presente, admitir o acidente e seguir adiante, ao som da simplicidade.

- Crônica sobre o filme Juno (EUA/Canadá, 2007)

Direção: Jason Reitman

Com Ellen Page, Michael Cera e Jennifer Garner.

Fábio Lucas
Enviado por Fábio Lucas em 03/05/2009
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