A INCESSANTE SAGA EM BUSCA DO CALDO DE FEIJÃO PERFEITO

Agora à tarde eu viajei olhando para uma vasilha com feijão de molho, com a qual a dona Hilda iria preparar uma panelada. E lembrei da minha primeira vez (aquela que a gente nunca esquece) em que cozinhei feijão. Lembro bem quando abri a tampa da panela de pressão, após os 30 minutos de chiadeira. Mas antes, de forma inteligente e evidente, esperei que se acalmasse de sair toda aquela fumaça assustadora, apressada e que tinha cheiro de feijão (evidente, eu tinha escrito).

Em seguida, revirei com uma colher de pau e avistei aqueles grãozinhos semi-cozidos mergulhados naquele caldo escuro e aguado, no qual eu sempre evitava de colocar óleo ou banha, preferindo preparar um feijão light.

Que diacho, pensei. O caldo daquele feijão não era igual ao da minha avó. Talvez porque não tivesse proporcionado aos grãos algumas horas de meditação na água, considerando coisa dos antigos. E depois percebi, nem o cheiro parecia igual, pois faltava no caldo aquelas ervas misteriosas que ela colhia pela horta e que eu nunca soube diferenciar muito bem entre um punhado de grama ou uma taturana que uma vez ferrou com minha mão.

Depois dessa panela de feijão, vieram outras. Às vezes, o feijão até ficava molezinho. Noutras vezes, até mais queimadinho. Mas o caldo, ah, o caldo esse não tinha jeito de engrossar.

E olhe que eu tentei. Enfiava de tudo naquele feijão: salsa, cebola, manjerona, manjericão, orégano, sazón e o que achasse que podia fazer a diferença. Uma vez cheguei até a olhar de forma investigativa para uma caixa de maizena. Mas foi só o insight.

Com o objetivo de simular um caldo mais grosso também passei a esmagá-los, o que rendeu certo resultado. Porém, não aquele que, invejosamente, observava noutras panelas. Não que o feijão ficasse ruim, só não ficava com aquele gostinho especial, com um caldo especial (que eu tanto sonhava em saborear numa xícara ou até embeber pedaços de pão).

Tempos depois, racionei que se minha avó deixava o feijão de molho, talvez aquilo tivesse realmente um sentido de ser. E passei a fazer isso. Nunca quis perguntar para ninguém a respeito do modo mais fácil de se obter o resultado pretendido, pois julgava que seria capaz de descobrir sozinho, me considerando um cientista gastronômico autodidata. E outra que também não queria ninguém assuntando (ou duvidando) de meus dotes culinários. Literalmente, não queria ninguém fuçando nas minhas panelas. (Que cozinheiro gosta?)

Pois bem. Hoje, vendo aquele feijão de molho, eu comentei de leve e despretensioso da resposta que eu nunca tinha conseguido deixar grosso o caldo do que eu preparava. E a única coisa que a dona Hilda me perguntou, não foi nem sobre os temperos que eu usava ou se deixava de molho. Ela perguntou se eu colocava, uma meia "xicrinha" de óleo ou banha. E eu disse que não.

- Então, nunca vai engrossar o teu caldo.

E me arrependi de ter dialogado com a dona Hilda sobre o feijão. Maldita seja. Eu ia descobrir aquilo sozinho. No máximo, nos próximos cinco anos..

Márcio Brasil
Enviado por Márcio Brasil em 15/04/2009
Código do texto: T1540396
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