O NAMORO VIRTUAL

O meu começar a escrever, coincide com este pouco tempo que frequento este recanto de escritores amadores e, neste publicar, comecei a interagir com outros escritores, o que me trouxe a vivência do que é formar uma amizade virtual e o peso que esta troca pode fazer na vida de uma pessoa.

Desenvolvi com alguns uma relação de carinho, em função das afinidades emocionais expostas nos poemas, ou pelas vivências sentidas, ou por pontos de vistas comuns em diversos assuntos.

É uma sensação boa e parece que pelos escritos ‘daquele dia’, a gente até sente o que esta se passando com estas mais próximas pelos sentimentos intuidos e, através de metáforas, procurei dar algum alento.

Tem o dito ‘que somos responsáveis por quem cativamos’ e eu diria que, também, por quem somos cativados

Com esta pequena experiência pude intuir o que as pessoas sentem ou desenvolvem, quando estão em algum relacionamento afetivo nos chamados namoros virtuais.

Vejo que os sentimentos virtuais que sentimos são muito próximos daqueles que já sentimos em uma época de nossas vidas, nos anos da adolescência, onde a paquera surgia primeiramente pelo lado afetivo, pelo lado da afeição, meio platônico, sem explicação aparente, pois, quando víamos, estavamos sentindo algo que até então nem pensavamos e passávamos a perder o sono.

Já na idade adulta isto já é quase impossível de voltar a acontecer da mesma forma, devido às barreiras que quase todos criam, pois todos  nós já passamos por frustrações, sentimentos não correspondidos, sofrimentos outros, decepções, etc, mas que nos amadureceram, e com este amadurecimento perdermos a capacidade de sentir novamente como "aquele primeiro amor", e por isto ele sempre vai parecer que foi o melhor, quando na realidade ele só existe naquela fase da vida mesmo.

Sinto quando recebo algumas palavras de carinho aqui no recanto, novamente aquele sentimento afetivo adolescente que vejo, de amizade sincera, mas que só senti naquela época, e que são tão gostosos e que faziam e fazem tão bem para a alma, mas vi que podem também, no mundo virtual, começarem a ser possessivos.

Já o namoro virtual, há de haver reservas, pois pode ser criado uma anormalidade que pode ser prejudicial, pois desperta um sentimento que, neste caso, pertence e é potencializado só no mundo imaginário, e que, por parecer mais 'perfeito', pode afastar a pessoa de envolvimentos reais, que são mais díficieis, mas fundamentais para o nosso desenvolvimento nescessário.

No relacionamento real há a empatia física, o nível cultural e até social, que no mundo do namoro virtual não tem tanta influência, assim como na adolescência não tinha; nos apaixonávamos simplesmente, sem muitas influências intelectivas ou sociais

Uma mulher pode nos elogiar no mundo virtual, sem problemas, assim como vice versa, dizer palavras que nos emocionam, mas que nunca seriam ditas pessoalmente, pois poderia levar à distorções, que a auto preservação natural e cultural não permite, pois a presença física atuaria de forma estorvadora, e os sentimentos despertados poderiam ser totalmente distorcidos.

Diversos fatores impediriam estes elogios, como os que podemos receber virtualmente, sem deixar para a pessoa sentimentos de culpa se for casada, pois aqui, são sentimentos de pura amizade  e que, pessoalmente, dificilmente ela se permitiria a dar estes elogios, por auto proteção.

É algo natural, totalmente enquadrado nas leis da natureza, da ação e reação existente no mundo real, mas que não existe no mundo virtual. No mundo virtual em qualquer decepção é só dar uma deletada sem nenhum constrangimento e o principe que virou sapo nunca mais aparece.

Na relação virtual de namoro, esta lei não tem como atuar e por isto a sensação de tudo ser perfeito, dando a impressão que é um amor mais meigo, mais sincero, mais amigo, pois naturalmente as pessoas mostram um lado afetivo, que possuem realmente, mas que pessoalmente, ou não teriam coragem de demonstrar, ou que simplesmente não viria à tona, mesmo que quisessem, pois somos diferentes nestes ‘mundos’ distintos.

Uma pessoa que é tímida na vida real, na vida virtual pode ser desembaraçada. Uma pessoa declara naturalmente os seus sentimentos no mundo virtual e no real poderia ficar paralisada. Uma pode se sentir incomodada na presença física no mundo real e ficaria encabulada, o que já não acontece no virtual.

E no virtual todos somos bonitos, sempre idealizamos assim o outro; nunca pensamos que ele possa ser feio, assim como sempre achamos bonita aquela dona da voz dadivosa do outro lado do telefone que nos diz alô.

São as mesmas pessoas no mundo virtual e real, só que estão atuando em mundos distintos, onde os sentimentos que fazem brotar no íntimo dos outros são diferentes.

No mundo real vamos ver a harmonia da vestimenta, as suas reações em situações desfavoráveis ou favoráveis, a sua interatividade com as outras pessoas conhecidas, a sua forma de se portar em ambientes reais, num restaurante, no campo, num cinema, num compromisso social, ou num momento de descontraçao.

E acredito que na maior parte das vezes, a impressão sempre será desfavorável, quando a conhecemos pessoalmente depois.

Na minha época de juventude havia as interações de contatos, via fone, os tele namoros, se não me engano era este o nome, onde se começava conversando em grupo e depois pela afinidade, passávamos a conversar direto, individualmente, com alguém.

Lembro, uma vez, que cheguei a ter um encontro e foi o suficiente para nunca mais me meter neste campo. É muito constrangedor ter que disfarçar a decepção e não ter que sair correndo. Para ela possivelmente aconteceu a mesma coisa é claro.

Quando me separei e fui morar num hotel, estava novamente desambientado na situação de solterice e algumas amigas ficaram querendo me arranjar namoradas que sempre eram frustantes após o contato, mas nunca o foi com aquelas que eu conhecia pessoalmente e depois saia.

Então por pior que seja a realidade não podemos fugir dela, temos que encara-la, pois é nela que está a verdadeira vida e onde aprenderemos aquilo que realmente precisamos aprender, quer seja bom ou não, para o nosso desenvolvimento, tanto social, como espiritual.

Como meio de fazermos amizades o mundo virtual é sensacional, mas para envolvimentos emocionais, há que haver reservas, e há , ainda, o perigo para quem na vida real não teve aquelas decepções que a maioria de nós passou na adolescência, e que nos preparou para a realidade da vida e para relações mais maduras, acabar caindo em alguma armadilha ou golpe.

‘Então não importa o preço que tenhamos que pagar, pois, neste caso, temos que cair na real’.


"Não é o lugar em que nos encontramos nem as exterioridades que tornam as pessoas felizes; a felicidade provém do íntimo, daquilo que o ser humano sente dentro de si mesmo” Roselis von Sass – www.graal.org.br

 
HAMILTON SERPA
Enviado por HAMILTON SERPA em 15/04/2009
Reeditado em 25/03/2016
Código do texto: T1539787
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