VAI LAVAR UMA TROUXA DE ROUPAS SUJAS, CARA!
Se minha memória não falha, os primeiros telefones fixos de Linhares foram instalados em 1968 ou 1969. Só os bacanas os tinham em seus lares e a gente que não era assim, sonhava em pelo menos colocar a mão em um aparelho daqueles.
Talvez por isso, talvez por “paixão”, um dia eu criei coragem e resolvi ir à telefônica (uma velha casinha onde hoje é o Banco do Povo) e pedi uma ligação para casa daquele que viria a ser o meu primeiro namoradinho, e ouvi de minha “sogra” um sonoro: “Vai lavar uma trouxa de roupas sujas, menina!”
Tá certo que ela nem sabia que eu existia, mas não deveria ter me falado aquilo, pois fiz questão de conquistar o menino e de despachá-lo, dois meses depois, sem um beijo sequer.
O tempo passou e eu me apaixonei mais de uma centena de vezes antes que pudesse ter a minha linha telefônica, num aparelho verde clarinho. Demorei uns três anos para pagá-la, mas eu “me achava” quase igual às pessoas que tinham “trocentas” linhas compradas (como investimentos), nas mãos de minha amiga Tiana Serra Silva.
Naquela época, quando eu assistia a seriados americanos em que o mocinho fazia uma ligação de dentro de seu carro, eu pensava: “Que mentira! Como pode isso? Cadê o fio? Então imagine a minha cara quando vi um “tijolão”, ou seja, um dos primeiros celulares que apareceram em nossa cidade! Se tive vontade de ter um? Juro que não. O preço não era para o meu bico e eu nunca gostei de ser rastreada. Isso mesmo! Acho que celulares são rastreadores! Às vezes a gente não quer ser achada e acaba sendo.
Hoje, quando ter telefones não quer dizer nada, lá em casa temos um fixo e quatro móveis e o inferno está instalado para os operadores de telemarketing. Volta e meia, temos de dizer: “Não quero nenhum cartão de crédito, não, pô!”, “Você ligou para casa de Sandy e Júnior, não sabia não?”, “Aqui é da Superintendência da Polícia Federal, como você descobriu este número? Informe seu nome e sua matrícula que eu vou fazer uma representação judicial contra você!”...Agora aprendi com meu amigo Gláucio Motta mais uma forma de despachar esses profissionais:”Cê, cê, cê, cê, tá,tá, tá, tá, tá, fafa,fafa,fafa,fafa, falando, cu,cu, cu, cu, cu, cua, No, no, nono, nono, Norma”. É só se fingir de gago. Duvido que eles tenham saco para conversar com quem resolver torrar a paciência deles!
De todos os maus usos que fazem da invenção de Graham Bell, creio que o pior é feito pelos fdps que ligam a cobrar (de dentro dos presídios) ou a mando deles. Geralmente, eles alegam ou que um ente querido sofreu um acidente e seu número foi encontrado no bolso do “sequelado”, ou, então, que ele/ela foi seqüestrado(a) e se você não comprar “x” cartões de recarga telefônica, vão matá-lo(a).
Assustada e nervosa, normalmente, a pessoa que atende o telefone se trai, fala o nome da pessoa amada e aí, acabou-se! Vai ficar refém e terá de ser muito esperto (a) para se livrar, já que os “ordinários” não permitem que o(a) chantageado(a) desligue o aparelho.
Apesar de conhecer bem essas histórias, numa noite dessas, quando eu escrevia uma crônica, o danado tocou e eu atendi:
_Alô!
_ Buá, buá, buá ( forçaaaado!), buá, mamãe, MAMÃE, é o seu filho!
Eles me pegaram mãe! Eles querem me MATAR! Buá, buá, buá...
E eu, calmamente; _ É mesmo? Como é seu nome, meu filho?
_ Buá, buá, é Thiago, mãe!
_ Não tenho nenhum filho chamado Thiago, não!
_ É Carlos, mãe, buá,buá... eles vão me matar, mããããe!
_ Não tenho filho chamado Carlos também não, sujeito.
_ Será Pedro Henrique? João Vitor? Leandro?... Insistia o ordinário” do outro lado da linha.
Lembrei-me daquela primeira “sogrinha” e me vinguei:
_ “Vai lavar uma trouxa de roupas sujas, cara!!"