SUELY

Loira, olhos azuis, bem feita de corpo, as noites em claro de todos os meninos da rua e das adjacências. O mundo só prestava quando ela saía de férias com a família para o Rio Grande do Sul. As nordestinas mirradas adoravam quando chegavam as férias, assim poderiam ter uma chancezinha de conseguir um namorado que estava ali, mas pensando em Suely. Mesmo no papel de limão, ficávamos satisfeitas e rezando para ela ficar por lá o mais possível, ou não voltasse, ficasse na terra de onde veio, com seus parentes italianos.

Uns beijinhos sem sabor, um namorado envergonhado da namorada que não servia para se fazer orgulhoso perante os amigos, exibir para a família, contar vantagem. De vez em quando o rapaz chamava Vera de Suely e Vera fingia não ter percebido.

Fizemos lista de defeitos em Suely, como foi difícil. Inventamos que tinha quadris de pano, isto é, ela vestia muitas calcinhas até ficar com aquela cintura de matar a gente de inveja. E aqueles peitos empinados eram sutiãs acolchoados.

Lá no Sul do país, Suely não tinha essa vez toda, porque era um tipo comum, havia muitas mais exuberantes do que ela. Nem se sabe até hoje se ela sabia ou se depois ficou sabendo da nossa fraqueza, do nosso sofrimento, se se incomodava por isto, Pior mesmo era que os nossos irmãos eram doidos pela gaúcha. Quem sabe até nossos pais, ali caladinhos e com os olhos brilhando.

O ano letivo recomeçou. Linda também no uniforme, a sulista passava com as pernas bonitas e, seguida dos olhares saudosos e desejosos. Parecia indiferente, anestesiada. Criamos o boato que veio noiva e que no final do ano voltaria para casar. Mas e onde está a aliança?

Férias de fim de ano e Suely não viajou para casar. Além de rejeitadas, passamos para a categoria de mentirosa. A única coisa a fazer era levar adiante aquelas férias terríveis.

Domingo de sol e praia. Quando a turminha chegou e começou a passar os olhos pelas areias em busca de um lugar agradável para estender a toalha, deitar-se para bronzear e ficar olhando o movimento, eis que na areia uma silhueta conhecida, de pé, descia a toalha da cintura deixando ver uma escultura em carne e osso.

Parecia o nascimento de Vênus. Saiu devagarzinho, pisando levemente na ponta dos pés e passando a mão esquerda pelos lisos cabelos dourados, ela, Suely. Ficamos tontas, imagine os rapazes. Desistimos do banho de mar.

Suely casou na nossa cidade, com o rapaz mais bonito e ficamos chupando dedo. Nossa alegria sem graça é que hoje a bela loira está gorda, sem cintura, feia e o marido a deixou por outra que desfilava numa manhã de domingo na praia.