Meus anos dourados

Meus anos dourados

Quantas saudades me dão quando atravesso as enevoadas cortinas do tempo e apareço no pequeno salão do Clube União. Bem no meio de uma gostosa matinê de carnaval de 1960. Uma verdadeira festa. Naquela época um punhado de crianças formava uma roda e giravam pelo salão, sob o som da banda que tocava “Jardineira”. Nesta roda estavam sempre as meninas e meninos da alta sociedade tavorense. Quem conseguia entrar nesta roda ficava muito feliz. Na maioria das vezes os meninos eram recusados. Uns ou outros eram primos. E quem conseguia entrar na roda e ser chamado para o centro dela para sambar a dois, podia se considerar um felizardo. Eu fui convidado muitas vezes para entrar na roda. Porque estudava com a coleguinha ou porque trabalhava na loja do pai da outra. Ninguém bebia ou fumava. Todos os pais ficavam vendo os filhos brincarem no salão, coberto de confetes e serpentinas. Era realmente uma festa tirada dos contos de fada. Eram só dois dias de matinê, e a tristeza já começava, antes mesmo da orquestra anunciar a última música. “Tiaram, tiaram, tiaram, tiararararararam....”. Alguns ainda conseguiam vir a noite com os pais e aproveitar mais um pouquinho daquele embalo.

Depois vieram muitos outros carnavais do Clube União ou da gafieira do Sr. Emílio Calil, bem perto dali, no clube Operário. Onde o Chico Preto era porteiro, e o Onça, Pereira, e outros faziam a Vaca e saíam pela cidade assustando a todos. Numa espécie de Bumba-meu-boi.

Como dizia o poeta: “E chegar a crer que a saudade tem voz/ E que murmura frases aos nossos ouvidos para que adormeçamos...”

Theo Padilha, 28 de março de 2009

Theo Padilha
Enviado por Theo Padilha em 28/03/2009
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