A SOLIDÃO NÃO FOGE DAS ASAS DA...

A SOLIDÃO NÃO FOGE DAS ASAS DA...

Marília L. Paixão

A solidão sai dos pratos de lanches e vai parar nas xícaras transparentes. Solidão de duas pessoas que não se entendem. Solidão ficaria até bonita se deixasse por conta das xícaras. Mas como eu a vejo com tanta vontade de me entornar solidão passa a ser um mar selvagem de reprimida ira e estagnação e nenhuma onda de beleza confortaria as almas por mais que fossem calmas.

Finjo que não ouço a ira do coração e penso que depois poderia até escrever alguns versos descontentes daqueles que dizem chega. Mas o dia do chega, nunca chega. O dia da raiva passa e a solidão sem graça vai descansar no vazio de continuar sendo ela mesma mesmo que estranhamente não só como pareciam os lábios ao redor da xícara.

Talvez bastasse segurar firmemente a xícara e devolver para o prato o mal estar. Talvez bastasse passar uns momentos sem ver, sem falar, ou simplesmente, sem desgostar mais um pouco.

Solidão pode até ganhar vários rostos dependendo das xícaras que a fita. Se vista pela vermelha, solidão poderia estar na beira de um precipício sem lutas de espadas. Solidão nenhuma precisa ser trágica. Mas justo hoje solidão foi me fitar com xícaras transparentes e correr não pude para lugar nenhum com meus mudos olhos.

Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 22/03/2009
Reeditado em 22/03/2009
Código do texto: T1500388
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