A SOLIDÃO NÃO FOGE DAS ASAS DA...
A SOLIDÃO NÃO FOGE DAS ASAS DA...
Marília L. Paixão
A solidão sai dos pratos de lanches e vai parar nas xícaras transparentes. Solidão de duas pessoas que não se entendem. Solidão ficaria até bonita se deixasse por conta das xícaras. Mas como eu a vejo com tanta vontade de me entornar solidão passa a ser um mar selvagem de reprimida ira e estagnação e nenhuma onda de beleza confortaria as almas por mais que fossem calmas.
Finjo que não ouço a ira do coração e penso que depois poderia até escrever alguns versos descontentes daqueles que dizem chega. Mas o dia do chega, nunca chega. O dia da raiva passa e a solidão sem graça vai descansar no vazio de continuar sendo ela mesma mesmo que estranhamente não só como pareciam os lábios ao redor da xícara.
Talvez bastasse segurar firmemente a xícara e devolver para o prato o mal estar. Talvez bastasse passar uns momentos sem ver, sem falar, ou simplesmente, sem desgostar mais um pouco.
Solidão pode até ganhar vários rostos dependendo das xícaras que a fita. Se vista pela vermelha, solidão poderia estar na beira de um precipício sem lutas de espadas. Solidão nenhuma precisa ser trágica. Mas justo hoje solidão foi me fitar com xícaras transparentes e correr não pude para lugar nenhum com meus mudos olhos.