RECORDANDO UM SONHO NO RIO




“Mais do que uma terra distante

Além de um mar brilhante

Mais do que o verde úmido

Mais do que os olhos brilhantes

Bem, eles me dizem, que é apenas um sonho no Rio

Nada poderia ser, tão doce quanto parece

Neste primeiro dia aqui

Eles me lembram: "Filho, você já esqueceu?”

“ Geralmente, o estragado está por dentro...

E o disfarce, logo cai “

Gosto estranho de uma fruta tropical

Língua romântica o português

Melodia, numa flauta de madeira

Samba, flutuando na brisa do verão

Está tudo bem, você pode ficar dormindo

Você pode fechar os olhos

Você pode confiar no povo do paraíso

Para chamar o seu acompanhante

E lhe transmitir suas despedidas

Que noite maravilhosa uma em um milhão

Fogo frio, estrelas brasileiras

Oh santo cruzeiro do sul

Mais tarde, me levam para a cidade numa lata

Não posso descer do palco

E não me surpreendo, quando eles dizem:

QUANDO A NOSSA MÃE ACORDAR / ANDAREMOS AO SOL

QUANDO A NOSSA MÃE ACORDAR / CANTARÁ PELO SERTÃO

QUANDO A NOSSA MÃE ACORDAR / TODOS OS FILHOS SABERÃO

TODOS OS FILHOS SABERÃO E REGOZIJARÃO

Alcançado pelos raios do sol nascente

Ao correr da arma do soldado

Gritando alto, no meio da multidão zangada

O suave, o selvagem e a criança faminta

Eu lhe digo: "Existe mais do que um sonho no Rio"

Eu estava lá naquele dia

E meu coração voltou a viver

Havia mais

Mais do que as vozes cantantes

Mais do que rostos me olhando

E mais do que olhos brilhando

Mas, é mais do que o olho brilhando

Mais do que o verde úmido

Mais do que as montanhas escondidas

Mais do que o Cristo de concreto

Mais do que uma terra distante

Além de um mar brilhante

Mais do que uma criança faminta

Nascido de um milhão de anos

Mais do que um milhão de anos.”
Tradução de “Only a Dream in Rio”
(James Taylor)




E eu estava lá... Rock in Rio... Singing “You’ve got a friend” with Mr. James Taylor. Foi lindo, lindo! Um monte de jovens de jeans sujos e pés empoeirados sentados no chão. Ninguém sabia que em meio aquele clima de astral indescritível renascia o Homem, o Artista que até então estava à deriva em um mar alcoólico.
A energia que agente emanava talvez fosse devido ao fato de acreditarmos. Minha geração foi afortunada, pois vivemos o momento de transição entre ditadura e a abertura política. Estávamos cheios de esperança e fomos bombardeados por uma onda cultural que há muito não se via. Nossos artistas da música, teatro, letras que por tanto tempo lutaram pela liberdade de expressão agora estavam aos brados, e tínhamos a sensação de que a liberdade começava a existir. Esse brado enchia nossos peitos de esperança, trazia brilho aos nossos olhos e as nossas bocas um sorriso de criança que começa a crescer. A cultura nos era oferecida em baldes e tínhamos acesso fácil ao talento dos grandes agora tão esquecidos. Não era preciso muito esforço, bastava colher como quem pega um fruto maduro de um arbusto e simplesmente alimentar nosso intelecto curioso e faminto de saber.
Quando ouço essa música posso sentir o cheiro dos passeios no calçadão de Copacabana com amigos após procurar em revistas e jornais o que tinha de bom para se fazer. O cheiro dos shows na sala Funarte, gramado do MAM, Circo Voador. Vejo-me sentada nas areias do Arpoador a ver e ouvir Joyce cantar Bossa Nova (Pasmem! Em um show para os funcionários da COMLURB). Era tudo tão diferente... Bons tempos aqueles! Onde o popular se confundia com o seleto. Sinto igualmente o cheiro da Pedra do Leme no final da tarde. Senhores pescando, crianças brincando na areia, as ondas batendo e ao longe o cheiro discreto do acarajé da baiana hum!... Cheiro de chupar um picolé assistindo o Sol se por lá do alto do Pão de Açúcar. Noites cariocas o Mama África, praia da Urca... Pista Claudio Coutinho! Andar Domingo à tarde pelas ruas do Centro da cidade com seus sobrados e museus. E o sanduíche no Cervantes?O último a fechar as portas! Comer na calçada depois de passar a noite com os amigos...
E foi nesse clima que eu vi a história acontecer diante dos meus olhos. Mesmo sem a cara pintada, ouvi Tancredo na Cinelândia, a emoção fez com que meu coração explodisse em degrades de verde e amarelo e eu acreditei. Assisti passeatas e reclamei do engarrafamento sem me dar conta de que a história ali acontecia.
Andei por mares de papeis picados após manifestações e comícios de euforia petista; e vi um Rio triste com a vitória de Fernando Collor De Melo. A indústria cinematográfica parou, as cadeiras da Sala Funarte ficaram vazias. A cultura da forma que eu conhecia entrou em estado de profunda letargia, perdendo espaço para bundas que se sacodem ao ritmo de melodias pobres e letras vazias. E o gigante dormiu...
“Deitado eternamente em berço esplendido...” Acorda meu bem, acorda! Estamos com saudades de ti e com nossas mentes famintas. Nossa cultura tem sede e queremos renascer contigo. Acorda!

“QUANDO A NOSSA MÃE ACORDAR / ANDAREMOS AO SOL

QUANDO A NOSSA MÃE ACORDAR / CANTARÁ PELO SERTÃO

QUANDO A NOSSA MÃE ACORDAR / TODOS OS FILHOS SABERÃO

TODOS OS FILHOS SABERÃO E REGOZIJARÃO”


*( Esse texto é muito importante pra mim, foi a minha primeira crônica. Escrevi quando voltava aos anos 80, de onde eu sorvi a energia para recobrar o equilíbrio que havia se perdido em mim e agonizava por voltar... Enjoy !!)

cinara
Enviado por cinara em 18/03/2009
Reeditado em 11/11/2011
Código do texto: T1493190
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.