Quinta-feira 12

Não acredito! Juro que não acredito!

São 09:30 da manhã e já fizeram o favor de entrar no meu quarto e, conseqüentemente, me acordar. Parece que não entendem que mesmo este local sendo considerado público, eu tenho a minha privacidade e mesmo sendo viva, preciso descansar em paz.

Tudo bem. Já cansei de tentar fazer esses seres, que se dizem “pensantes” entenderem ou, ao menos, pensarem sobre isso.

Sigo para o banheiro e dou prosseguimento à ducha de água fria. Refrescar a mente, afinal de contas o dia só está começando. Tudo pode melhorar.

Lembro-me que preciso ir até o meu ex-estágio (escravo) e receber a última bolsa (esmola mensal).

Ainda bem que tem uns restos mortais daquilo que chamam de dinheiro na minha poupança.

O cartão. Cadê meu cartão? ... Impossível! Preciso achá-lo. Não posso enfrentar uma fila gigantesca de um caixa convencional de um banco hiper, mega, ultra lotado.

Logo hoje ele resolve brincar de esconde-esconde, de novo.

Tudo bem. Vou exercitar meu espírito esportivo infantil.

Desisto. Ele sumiu sem deixar nenhuma pista.

Enfim, junto umas (muitas) moedas, pego um moto-táxi, ponho um capacete(arranhado e fedorento) na cabeça (limpinha e cheirosa) e sigo para o meu destino.

Logo que chego na recepção,a meninazinha recepcionista de olhos claros, mostra-me todos aqueles dentes em um sorriso escancarado e diz: “Talitinha!! Ganhei uma cesta linda de café da manhã e um buquê de rosas vermelhas hoje. Muito lindos e perfeitos. Estou muito feliz!”

Instantaneamente veio à minha mente: “Hoje é Dia dos namorados!”

Com todo o humor agradável que este dia proporcionou-me, olho para minha colega, que no momento transpirava felicidade e digo: “Que legal, querida! Mas você não precisava fazer com que eu lembrasse dessa data infeliz. Eu que sou uma encalhada assumida não precisava saber disso, não mesmo!”

Ela ficou com uma cara desconcertada e duvidosa, talvez pensando em algo para dizer. Mas não disse. Graças a Deus!

Sento-me na certeza de esperar, pelo menos, umas três horas. Acabei esperando umas 50, lendo umas 20 revistas de fofocas e vendo superficialmente outras 39.

Quando, finalmente, alguém lembra da minha existência e resolve aparecer, traz uma notícia “animadora”: vou receber o dinheiro amanhã.

Que legal. Sem problemas. Tou cheia da grana mesmo. E também um dia a mais um dia a menos não faz diferença.

Tenho certeza que meu falso sorriso e minhas palavras curtas, grossas e irônicas demonstravam aquele ódio voraz corroendo-me por dentro.

Claro que faz diferença. Eu preciso desse dinheiro HOJE. Só tenho 4 reais parcelados em várias moedas, que um moto(“monstro”)-táxi vai sugar todo.

Finalmente, chego a minha casa, depois de uma topada, sandália quebrada e paquerada por um membro banguelo da terceira idade.

Não tem importância. Continuo firme e forte acreditando que tudo vai melhorar.

Almoço uma comida ruim e queimada, deito e durmo para esperar a hora de ir à faculdade. Acabo dormindo até perder a hora da faculdade.

Calma, Talita. O dia já acabou. Mas durante a noite as coisas vão melhorar.

Além de chegar atrasada na aula, acabo descobrindo a existência de uma prova que fora marcada há um mês.

Depois desta maldita prova, vejo todas as pessoas falando das suas provas, presentes e vidas perfeitos.

Fim de noite, hora de dormir e nada melhorou. Além de tudo, não recebi nenhuma ligação, ninguém mandou flores, nem disse que me ama.

Apesar de tudo, agradeço a Deus por este dia, pois hoje ainda é quinta-feira 12 e amanhã que é sexta-feira 13?!

Que tenham piedade de mim.

[12.06.08]

Talita Souza
Enviado por Talita Souza em 16/03/2009
Reeditado em 07/08/2009
Código do texto: T1488788
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