NÃO QUERO UM DIA SÓ PARA MIM!
Fiquei tentando achar algo neste dia que fizesse dele um dia mais especial do que os outros...Não encontrei. Então, pensei: Será que sou merecedora de um dia em minha homenagem?
Agora à noite, lendo a crônica de Zélia Freire, “O que quer, afinal, uma mulher?”,descobri que não quero a pesada carga da hierarquia angelical, e nem o desconforto da figura santificada, dedicadas a mim. Isto não me cai bem! Não quero a condição de santa. Prefiro o meu direito de errar, de surtar, de estar cansada, de negligenciar as tarefas que teimam em pular na minha frente, lembrando-me que sou eu (somente eu) que terei que executá-las. Prefiro muitas vezes ser assexuada, para me sentar no sofá e deixar as horas passarem enquanto leio livros, folheio revistas ou rabiscos meus textos. Não pretendo a perfeição cantada, declamada, escrita...Da mulher.
A noite que entra pela janela anunciando a despedida deste dia Internacional da Mulher, me faz ver que esta data tornou-se comum (pelo menos para mim) porque as maiores conquistas do sexo já foram alcançadas lá atrás, por mulheres pioneiras da ousadia e da determinação. Não quero tomar para mim os méritos e os louros que pertencem a elas.
Quando me volto para o sentido comercial da data, sem querer ser a água fria que sai do balde para encharcar as calorosas homenagens espalhadas por todo o Recanto e por todos os cantos,concluo que não gostaria de ganhar presentes hoje. Nada que pudesse ser pago para representar o meu valor. Nada que fosse grandioso para mostrar a minha grandeza. Nada que fosse caro para mostrar a minha importância.
O maior presente, a maior recompensa, a incomensurável homenagem me veio em forma de cartão, que o meu filho escreveu e que se encontra sob dois imãs em forma de coração decorando a geladeira. Numa caligrafia irregular, de uma ortografia inexata ele declarou: “Você é a minha 'lus' e a melhor mãe que 'esiste'.”
Não quero um dia só para mim. Como o presente do meu filho, quero ser compreendida em minha imperfeição pelo resto dos dias do ano. Prefiro que me aplaudam pelos 365 dias em que sou apenas e humanamente, mulher.