DESAFIO MACABRO - TROPEÇOS DA IMAGINAÇÃO
TROPEÇOS DA IMAGINAÇÃO?
Marília L. Paixão
Quando me perguntarem se já escrevi meu texto de terror direi que nunca penso nem em ler um texto de terror quanto mais em escrever um. De qualquer forma há um terror no dia a dia de cada um e quando menos esperamos há um terror batendo na nossa porta. Pois tudo que nos aflige vira terror.
Como exemplo, posso citar o filme Paranóia Americana, em que um americano começa a vigiar seu vizinho muçulmano com medo dele ser terrorista. Ótimo filme para pessoas que se ligam ao assunto, como eu. Quem sabe o filme é um bom prato para o meu texto, mas como sou danada vou criar eu mesma a minha historinha já que tudo é uma brincadeira e este desafio de terror também.
Aqui vai a história de uma menininha, moça, mulher que não gosta de andar no escuro. Pode dizer que é por medo de tropeçar e cair bem em cima de um corpo morto que tem mãos e fala. E pior ainda, que tem olhos de fogo e mãos de gelo. E para piorar tudo um pouco mais as mãos de gelo com olhos de fogo tentam arrancar a roupa da menina, moça, mulher. Esta, ao sentir as mãos de gelo sob o olhar de fogo, se sente mais mulher que moça ou menina. A pobre coitada nem grita.
Antes mesmo dos leitores entrarem em transe erótico vamos tentar diminuir o pavor da vítima assim que ela descobre que o corpo morto no qual ela tropeçou era de uma mulher muito magra cuja pele já não tinha nenhum recheio. Fechou então os olhos e não entendeu por que a criatura tentava lhe tirar a roupa. Pensou em gritar, mas não saía grito e a roupa que do seu corpo saia a deixava linda perto daquele corpo esquálido e sem vida.
Com a imaginação da sua possível beleza sentiu até um pouco de coragem e pensou que poderia se livrar das mãos geladas e que para isso bastasse dar um safanão na pobre coitada da morta e ela viraria pedaços de ossos espalhados pelo chão do quarto escuro. Mas para que maltratar tanto alguém que já tinha morrido? Pensou a bela mulher, não tão moça, que nada mais tinha de menina.
Sem partir a cara da morta com seus braços fortes e bonitos a mulher conseguiu se livrar e ao erguer-se acendeu a luz e não tinha corpo nenhum lá. De qualquer forma ela se sentia suada com a luta física e foi tomar um bom copo de água na cozinha. Deixou que o olhar percorresse a inteira casa para ter certeza de que tinha sido mesmo um pesadelo. Tudo estava em ordem exceto pelo fato inexplicável de estar nua naquela noite fria em que se lembrava perfeitamente de ter vestido seu belo pijama florido e ido dormir feito um anjinho que quase nunca acorda para fazer xixi no meio da noite.
Resolveu então que, por vias das dúvidas, não iria ao banheiro pois de acordo com os filmes de terror, sempre acontecem coisas ao olhar no espelho. Foi direto para o quarto e não era por questão de medo. Chegando lá percebeu que ela, a moça, a mulher não mais menina, estava lá deitadinha na cama de pijama florido e tudo. E ela, a que tomou água e fugiu do banheiro para evitar o espelho era a outra.
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Este texto faz parte do 1º Desafio Recantista de 2009.
O tema definido desta vez foi o de Contos Macabros, contemplando textos sobre horror sobrenatural ou realista, densos e sérios ou divertidos e leves.
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