EU QUERIA MUDAR O MUNDO
Outro dia, lendo uma crônica de Maria Olímpia, me vi ali representada em suas palavras. Seus sonhos - tão meus na adolescência -, suas crenças, seus desejos, todos parecidos com os sonhos de quem acreditava ser capaz de transformar o mundo.
Quando abri os olhos para o mundo e o percebi cinza, acreditava que poderia transformá-lo em um arco-íris. Engajei-me nos movimentos estudantis, nas CEB´s (Comunidades Eclesiais de Bases), nos partidos políticos e, mais tarde, nos sindicatos.
Acreditava que tudo seria diferente quando derrubássemos a ditadura.
Eu acreditava e lutava. Odiava quando me diziam que tudo aquilo era sonho e que políticos eram todos iguais. Que nada mudaria neste país. Enfrentei tudo e todos. Fiz greves. Fui expulsa do colégio. Denunciei injustiças. Lutei contra o lixo nuclear que queriam trazer para minha cidade. Subi em palanques. Defendi nomes e pessoas que representavam meus sonhos.
O poder foi tomado. A ditadura caiu. Não pelas diretas como eu sonhei. Muitos dos que acreditei não chegaram ao poder. Os que chegaram esqueceram meus sonhos pelos caminhos, ou eles nunca foram importantes para seus projetos. Alguns tentaram - como andorinhas solitárias -, fazer a diferença, mas foram engolidos pela grande e feroz máquina do sistema.
Estarrecidos, meus olhos se negavam a ver que eu havia voado com asas alheias, que eu atingira as nuvens em vôos imaginários, que aqui na terra os homens não têm tempo para sonhos e fantasias, e que, na cadeira do poder, não há lugar para os sonhos sentarem-se.
Sentada em cadeiras duras e desconfortáveis vi àqueles em quem acreditei desfilarem em carros abertos e acenarem para uma multidão que ainda luta, desesperadamente, para acreditar em seus sonhos e promessas. Sem asas, e com os pés feridos, não pude acompanhá-los. Apenas olhei tristemente o desfile, enquanto meus olhos choravam a dor de não mais acreditar e seguia junto com a multidão.
Meus pés, hoje, não conseguem subir as escadas que me levavam aos palanques onde as promessas me pareciam tão honestas, tão verdadeiras. Minha boca, devido a tudo isso, se nega a defender promessas políticas e repetir “planos de governos”, a lutar por este ou aquele candidato. Meu corpo se nega a ser coberto por camisetas que tragam slogans políticos. Minhas mãos não seguram mais as bandeiras que deram tanto cor a minha adolescência.
Eu descobri que não posso mudar o mundo, mas posso fazer a diferença naquilo que faço. Se não milito em grupos, sindicatos ou partidos, procuro fazer a minha parte enquanto cidadã, exercer minhas funções com competência, honestidade e lisura. Procuro ser transparente em tudo que realizo e, se não mudei o mundo, também não me deixei corromper pelo mesmo.
Essa é a minha resposta, é a minha certeza e a minha fé em todos que, apesar deles, continuam acreditando e não se deixam "levar" pela lei da vantagens.