Crônica-poética para uma noite de sono

O sol já se pôs

As sombras do dia se misturaram ao escuro da noite

Os carros desligaram seus motores

Pelos cantos da cidade alguns botecos ainda funcionam

E os bêbados que nunca saem pedem mais uma saidera

Na TV a última novela já passou

Os últimos casais ainda se despedem pelas ruas

Nas igrejas todos os santos já adormeceram

E os fiéis em suas casas fazem a última oração do dia

Barulho de trancas de portão sinfoniza a penumbra silenciosa

As poeiras do caos deixaram de lado a balbúrdia e adormecem sobre os móveis

Os cães latem

O sereno cobre os indigentes nas calçadas

Lá longe o ruído da sirene de um carro de polícia

Os pais já beijaram a testa dos seus filhos na cama

Na redação as máquinas confeccionam velhas verdades no jornal de amanhã

Nos brejos estripulias de sapos

Apago o cigarro

Fecho a janela do meu quarto no quinto andar do prédio

Pois a cidade lá embaixo me convenceu: “É hora de dormir.”

Vavá Borges
Enviado por Vavá Borges em 04/03/2009
Código do texto: T1469177