Crônica-poética para uma noite de sono
O sol já se pôs
As sombras do dia se misturaram ao escuro da noite
Os carros desligaram seus motores
Pelos cantos da cidade alguns botecos ainda funcionam
E os bêbados que nunca saem pedem mais uma saidera
Na TV a última novela já passou
Os últimos casais ainda se despedem pelas ruas
Nas igrejas todos os santos já adormeceram
E os fiéis em suas casas fazem a última oração do dia
Barulho de trancas de portão sinfoniza a penumbra silenciosa
As poeiras do caos deixaram de lado a balbúrdia e adormecem sobre os móveis
Os cães latem
O sereno cobre os indigentes nas calçadas
Lá longe o ruído da sirene de um carro de polícia
Os pais já beijaram a testa dos seus filhos na cama
Na redação as máquinas confeccionam velhas verdades no jornal de amanhã
Nos brejos estripulias de sapos
Apago o cigarro
Fecho a janela do meu quarto no quinto andar do prédio
Pois a cidade lá embaixo me convenceu: “É hora de dormir.”