Quarta-Feira de Cinzas
O carnaval passou sem que eu percebesse e, quando reparei, acordei em uma manhã sem sons extravagantes na rua, sem pessoas vestindo apenas roupas de baixo andando, caindo e pulando pelas calçadas. Acordei sem sentir aquele cheiro de álcool que nos entorpece e nos embriaga sem que estejamos no meio da folia. Acordei sem testemunhar a alegria corriqueira que virou rotina nos últimos quatros dias passados.
"Será o fim?", pensei com meus botões. Sim, era o fim do carnaval. Era o fim da folia e o início do retorno as normalidades. Era o fim dos namoricos em muros escuros, fim das bebidas, fim dos blocos a desfilar pelas ruas. Era um fim de felicidade ingênua, porém importante para não nos apegarmos à mesmice de sempre em nossas toscas rotinas. Era o fim do carnaval e a volta ao mundo de antes.
Para muitos, o carnaval é mais um feriado: viagens com a família, quatro dias em casa sem fazer nada, sem trabalho, sem escolas e apenas descanso. Há quem ainda trabalhe nestes dias, seja adiantando coisas para depois do carnaval, seja trabalhando na folia. E há quem se entregue a tudo e caia na gandaia. Solta-se no mar colorido de blusas de bloco. No mesmo mar onde as máscaras dão novas identidades aos foliões. Mar de farinha de trigo do famoso "mela-mela". Mar de gente que se pisa, gente que perde, gente que se ama e se separa.Gente que se molha na chuva e gente que se queima no sol. Gente que está ali, na praça, no calçadão, na avenida, para o que der e vier.
É carnaval e quantas almas se perdem, se ganham e se abraçam. E tudo gira ao redor das músicas, seja as marchinas ou as músicas da moda. Qualquer estilo está imperante. Tudo no carnaval vale.
E hoje, nesta quarta-feira nublada, vejo como as coisas são diferentes pós-carnaval. Hoje é dia de dormir tarde e acordar cedo. Hoje é dia de ir à igreja receber cinzas na testa. Hoje é dia de acordar para o mundo.
É carnaval... E as coisas voltam a ser como antes...