A mulher de 25
E a partir daquele dia ela usa creme anti-rugas.
Ela se penteia, pensando no roteiro de tarefa diária e se descabela ao longo do dia.
Amamenta seus sonhos recentemente realizados, enquanto se engravida com novos projetos e realizações.
A mulher que sabe qual perfume usar, que roupa vestir, que sapato não aperta e qual alimentação é mais saudável é a mesma que se confunde com quem vai pra festa, quem vai pro altar, quem vai pra casa da avó, quem vai pro coração.
E ela chora com terrorismo, e ela ri com terror. Chora com vandalismo, ri com Vanda, Rafaella, Ana Cláudia, Hellen e Edú.
Chora e ri com despedidas. Chora e ri com "Eu te amo". Chora e ri com "Faça-me o favor". Chora quando dói o estomago. Ri quando dói a consciência. Chora quando dói o coração. Ri quando dói os ouvidos.
Sem vergonha admite os gostos musicais, as leituras e os erros que já cometera.
Dorme onde puder, volta quando quiser.
Lê e conta o que leu.
Dinâmica.
Alternativa.
Se descobre a mulher que é.
E faz de conta que sempre foi, que é pra não chamar atenção.
Passa 10 horas com um amigo e não consegue colocar a conversa em dia.
Passa a vida. Passam os dias.
E ela treme com o frio que vem do ar-condicionado. Ela treme com angústia, com decepção. Ela treme de medo de dormir sem ninguém ao lado. E treme se a porta faz barulho, pra chegar quem quer que seja. Ela treme.
Se afasta de inimigos. Se achega nos amigos. Ela não teme. Ela treme.
Chora, dorme, sente... Ela é simplesmente a mulher.
Que toma leite, que escova os dentes, que coloca um chinelo para ir à padaria, que coloca o despertador pras 6h30 todo dia. Que acha o domingo estranho. Que ama. Que é amada.
Ela é a mulher de 25 que acabou de nascer.
E a partir daquele dia, passa a usar creme anti-rugas.