O dragão
Nessas minhas andanças, com vistas a cobrir eventos e outras, dirigi-me novamente à cidade de Piquete. Era 14 de junho. Como fui pela manhã, já não havia mais os ofuscantes faróis pelas curvas daquela estrada que corta o verde sob o olhar do gigante Marins, azulado, misterioso.
Na estrada, os eucaliptos alinhados tentaram sugar um pouco da minha percepção (da água, nem tanto, pois sempre tenho reservas, pois sei que às vezes a estrada é longa...).
À entrada da cidade, virei-me à direita, pela rotatória, evitando seguir em frente, pois o acesso à tradicional Praça Duque de Caxias seria mais rápido. Estrada que para o bem do chamado progresso, um negro asfalto a cobrir a estrada de ferro, a qual, por muitos anos, deslizaram os vagões da extinta Maria fumaça. Esse asfalto, porém, não é capaz de cobrir a saudade e a imaginação de alguns...
Reduzi a velocidade. Imaginei-me sentado em uns dos bancos daqueles trens de outrora, hoje vistos apenas em novelas de época. Segui a acompanhar o bucólico cenário composto pelos picos do Marins: Lua, Dedo de Deus, Focinho de cão, entre outros. Chego, então, à centenária Estação Ferroviária “Conselheiro Rodrigues Alves”, hoje transformada em ponto turístico. Alguns cães sonolentos banhavam-se na luz do sol, deitados tranqüilamente na calçada. Pitoresca calmaria. Pausa no contexto ferroviário.
Chequei outra vez à nova praça recentemente revitalizada, onde os bancos são de madeiras envernizadas e os encostos são bordados em ferro. Lá onde estava acontecendo o desfile cívico alusivo às comemorações dos 117 anos de aniversário da cidade. Belo cenário, bela praça. A banda do exército oferecia ao vivo boa sonoridade. rianças desfilando e acreditando nas frases das faixas que ostentavam a Paz.
De esmera educação, o prefeito Otacílio Rodrigues, representando o povo piquetense, durante o hastear do símbolo maior do município, novamente disse: “Deus é o início, o meio e o fim. E quando coloca-se Deus ä frente, a vitória é certa!”
Veredores e assessores compareceram, também estavam presentes deputados que ajudaram o município e foram homenageados.
Com minha câmera fotográfica registro tudo.
Na trilha do Dragão. Os heróis, entre explosões, fogos e forças, construíram um futuro para os que hoje estão sorrindo na Duque de Caxias. Cavalos de aço, possantes, postam abaixo da abóbada do futuro – lendário pórtico – à espera do momento certo para atravessá-lo e entrar em cena. O Jongueiro, também descendente dos guerreiros que lutaram, hoje professor, que dessa vez, através de seus alunos, mostra a sua preocupação e trava outra luta a favor dos que inda nem nasceram. O histórico Elefante Branco (embora alaranjado, voltará um dia a ser branco!) registra em sua grande memória mais um desfile Piquetense.
Em outros momentos, a lente flagrou os brilhos nos olhares de milhares de presentes. Capturavam as cores refletidas dos guardiões, símbolos patriarcais dos países que ajudaram o desenvolvimento do Brasil e o progresso de Piquete. Simbolicamente, dezenas de bandeiras alinhadas abriram alas para as representações das tradições de vários países amigos. Milhares de crianças, jovens, adolescentes, idosos, além do próprio Messias anunciando no trompete um novo tempo e outras cenas vistas no desfile cívico de Piquete encantaram.
Fosse escrever tudo nessa crônica, dezenas de laudas não seriam suficientes para registrar a beleza da exemplar organização, resultado do empenho dos organizadores atuais e dos eventos anteriores, pois esses deixam sementes cultivadas por professores e diretores, talvez até mesmo de voluntários no anonimato e pelo apoio do poder público municipal e a iniciativa privada. Por isso, e muito mais, o desfile Cívico Piquetense já é um aspecto turístico que ainda precisa ser melhor descoberto.
Até breve, companheiros. Vou-me embora. A janela do trem de prata da percepção e da imaginação me espera para outras viagens em busca das histórias e eventos, entre as serras e vales sem-fim.
E o Dragão continua adormecido ao pé da muralha!