A praça
É interessante observar a praça pública. Interessante e estranho. Um lugar que é de todos e ao mesmo tempo de ninguém. Para este lugar convergem todos os habitantes da cidade, seja para um passeio maior ou para uma rápida passagem. Mas aqui, na cidade de Barreiras, a praça se tornou um ponto de referência, por ser a principal no centro.
Ao saírem da escola, os estudantes de todos os cantos passam por aqui. Se não têm necessidade de pegar um ônibus, vêm ao menos para se divertir, passar o tempo, encontrarem outros mais jovens. É o ponto de encontro de todas as diferenças. Vê-se um hippie a vender seus artefatos; encontra-se um empresário que aqui estacionou o carro; percebe-se crianças correndo ou pedalando; em outro canto há um idoso, de bengala na mão. O meio-dia na praça ferve de cabeças e pernas e braços e corações em busca do seu fazer. Cada qual com seu objetivo, muitos com metas comuns. Mas todos passam por aqui.
E á noite, então! Que histórias, que segredos, que miragens guarda a praça! Quantos beijos escondidos, quantas canções acompanhadas de violão, quantas lágrimas em colo de amigo, quantos gemidos abafados! Aqui tudo se passa, tudo se desenrola, e no fim é apenas mais um acorde da mesma canção.
São pólos extremos de um único mundo, a convivência da grandeza e do vil, do privilégio e do abandono, do querer e do poder. Tudo se encontra na praça pública.
Não moro em Barreiras, mas essa praça faz parte da minha vida desde quando era Praça das Corujas. Assim que passei a frequentar Barreiras sem a família, por conta dos estudos, aos quatorze anos, comecei a ver o lado público da cidade. Obrigatoriamente eu deveria passar pela praça.
A cidade é um misto de etnias, cores, formas, ideais, posições sociais, de conceitos. Mas na praça... Não sei que efeito nivelador há aqui. Todos se tornam passantes, e só. O misto acaba se unificando e solidificando numa única característica: aqui, somos todos passantes.
E se porventura as minhas primaveras me permitirem conhecer outros lugares, outros estados, outros países; e se alguém me perguntar onde eu aprendi a observar, sentir, escutar, direi que foi num lugar onde todos são tão parecidos em suas diferenças que tive que apurar os sentidos para discerní-los. Foi num lugar onde todos passavam. E só.