PRA QUÊ REFORMA??
Aqui estou eu na difícil missão (talvez bem mais difícil que se possa imaginar) de falar um pouco mais sobre a já tão discutida Reforma Ortográfica da Língua Portuguesa. Reforma essa profundamente polêmica e absolutamente desnecessária, na opinião de muitos. E altamente benéfica e até mesmo imprescindível na opinião de outros. Mas, antes de qualquer coisa, é importante que eu diga que de nada mais adianta qualquer discussão. A dita reforma já está em prática. E segundo o Ministério da Educação ela irá facilitar o intercâmbio cultural e até mesmo científico entre os países que fazem parte da chamada CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa). A intenção é unificar a língua desses países. Ao que eu me pergunto: será isso possível? Pois se até mesmo dentro de um mesmo país, em cada Estado há sotaques e termos próprios, se até mesmo algumas palavras têm significados diferentes em cada Estado? Isso todos sabem. Não é necessário ser nenhum estudioso para estar ciente dessa realidade. Mas que fique bem claro: o que aqui escrevo é apenas minha modesta opinião – tão modesta que nem vale mais nada, nesse caso. Mas é meu direito falar sobre ela. Assim como é direito de todos os cidadãos brasileiros. Confesso que por várias vezes já me fiz a mesma pergunta: serei apenas uma arrogante contestadora? Uma ignorante acomodada, não disposta a receber as inovações e contrária à evolução? Mas quanto mais eu penso, não há meios de chegar à outra conclusão senão a seguinte: para quê uma reforma, se o povo sequer aprendeu a falar corretamente da forma “antiga”? É verdade! Basta ler na Internet, nos sites de relacionamento, por exemplo! Chega a me dar um frio na espinha quando leio coisinhas do tipo: “voçê”, “comserteza”, “deichar”, “Jesús”, “eu seio”, “encomodar” “dimaior”, “dimenor”... e outras barbaridades mais!
É preciso que língua portuguesa evolua em coerência, não em contradições – e ao meu ver não existe contradição maior que essa! Se as autoridades que assinaram esse Acordo vissem isso COM CERTEZA desistiriam da idéia imediatamente!
Bem, o governo brasileiro – apesar das profundas divergências, até mesmo entre os imortais da Academia Brasileira de Letras – tenta minimizar a coisa. O Ministério da Educação afirma que apenas 5% do nosso vocabulário será alterado com as mudanças. E que a partir dela a população passará a escrever melhor. Outros argumentam sobre a inutilidade do Acordo.
Há outro fato que considero merecedor de destaque para engrossar a corrente contra a malfadada reforma: a questão da economia. Já imaginaram a quantidade absurda de livros didáticos, dicionários e enciclopédias de Português serão simplesmente descartados, jogados fora em todo o país, considerados ultrapassados e inúteis? Só porque não estarão mais de acordo com as novas regras ortográficas?
Sou uma amante dos livros, das palavras e das letras. E sofro com essa situação. Imaginem os imensos gastos do governo, a fim de reabastecer as bibliotecas públicas de todo o país? Meus caros, vocês hão de convir comigo que trata-se do absurdo dos absurdos! Sem contar que todos vão cair nessas ”novas armadilhas ortográficas” – independente de idade, sexo, grau de instrução ou Estado!
Eu, particularmente – como sou uma poetisa inveterada e em tudo tento encontrar alguma poesia – fico imaginando quais palavras (palavras, e não apenas acentos, tremas, ou hífens) poderiam ser criadas, inventadas e ACRESCENTADAS ( e não excluídas) aos novos dicionários. Que fossem milagrosas, capazes de melhorar as condições de vida do povo brasileiro, das nossas crianças, banir de vez a violência, enfim, abolir definitivamente as inúmeras barbaridades que acontecem em nossa Pátria. Isso sim é preocupante, é gravíssimo – e seria necessário e imprescindível uma medida – em caráter de urgência urgentíssima!
E na informática? Quantos contratempos, quanto trabalho e dúvidas? Começando pelos verificadores ortográficos de programas editores de textos. O jeito será apelar para o jeitinho brasileiro: cada vez que uma palavra aparecer sublinhada no texto a solução imediata é clicar em “Adicionar ao Dicionário” (haja paciência!). Até que a Microsoft forneça a atualização para o pacote do Office.
Mas não adianta protestar. O que está feito está feito. Resta-nos ainda quatro anos para treinar (serviria isso como um consolo?).
Como bons brasileiros que somos – e já agüentamos coisas bem piores – deixemos rolar, que com o tempo tudo se ajeita. Estarei sendo agora conformista demais? Talvez. Mas baseio-me no fato de que sempre foi assim...
Devaneando um pouco mais, tomemos por exemplo a frase: “Os pássaros estão em pleno vôo”. (agora voo). Que diferença fará o acento circunflexo – se quando os bichinhos cismarem de levantar vôo, não haverá quem os impeça? E o pôr-do-sol? É claro que irá continuar acontecendo todas as tardes – com ou sem o hífen!
Por via das dúvidas, nunca mais pedirei um sorvete de coco...
Ah, antes que eu esqueça: Feliz Erro Ortográfico para todos nós!!