OH, DÚVIDA CRUEL!
Estive fazendo uma espécie de pesquisa entre as minhas amigas (absoluta falta do que fazer, diga-se de passagem). E, por incrível que pareça, descobri coisas que foram quase uma unanimidade em suas respostas. Entre uma reunião e outra de amigas, em encontros de fins de semana, aniversários, etc, lá ia eu de bloquinho e caneta em punho – a fim de “entrevistá-las”. No início nenhuma delas se habilitava a tornar-se “cobaia” em minha inusitada experiência jornalística. Mas, depois de algumas cervejinhas a coisa mudava. E aí elas abriam o bico – quer dizer, a boca.
A pergunta era sempre a mesma para todas: “o que deixa você mais nervosa, ansiosa ou estressada quando um homem a convida para sair – e quando você aceita esse convite e marca um encontro com o dito cujo?”
Confesso que o resultado dessa pesquisa me surpreendeu bastante. Porque pensei que apenas eu fosse assim: ansiosa, estressada e maluca!
Bem, o stress tem início no instante que o convite é feito. Para jantar, por exemplo. Nesse momento desencadeia-se diante da mulher um misto de felicidade e inferno astral. E mental. E emocional (ainda mais se ela estiver a fim do sujeito e não quiser de forma alguma decepcioná-lo). Começa a se programar mentalmente ali mesmo para que esteja impecável até o dia do encontro. Incluindo pele, cabelos e unhas. Pra não falar na escolha do modelito. Um verdadeiro ritual. Uma dieta de emergência é iniciada às pressas (mulher sempre se olha no espelho e se acha enorme de gorda, ainda que seja esquelética). Seu café da manhã passa a ser apenas um iogurte natural. Suas refeições passam a consistir em uma suculenta folha de alface e um delicioso e nutritivo copo d’água. Lanche da tarde: uma barrinha de cereal light. E só. Muito saudável. Ainda que o estômago esteja se contorcendo de fraqueza. Mas vale a pena o sacrifício, pois o sujeito é gatíssimo, além de culto e rico.
As mais radicais vão até ao salão de beleza fazer limpeza de pele, tintura nos cabelos, massagem, hidratação com banho de chocolate e outras futilidades mais. São capazes até de quebrar aquele cofrinho que deveria ser aberto só no final do ano para a compra do presente dos sobrinhos, a fim de completar a grana do salão (que por sinal custa os olhos da cara). Mas a causa é nobre – justifica para si mesma.
A etapa da escolha da roupa não é fácil. E varia com o grau de importância que ela dá ao indivíduo em questão. Quer estar muito bem vestida. Mas... qual será o gosto do infeliz? Será que esse vestido não é decotado demais? Ele pode julgá-la vulgar. E aquele outro? Sério demais... é bem capaz que ele não lhe dê sequer um beijo, imaginando que é a pureza em pessoa. Por fim acaba achando que o espelho não está colaborando com ela (pobre espelho) e escolhe uma calça. Apertadíssima. Tão apertada que parece ter sido costurada em seu corpo, e não vestida. Não dá nem para respirar. Se tossir ou espirrar, com certeza ela se partirá em duas! Mas seu bumbum é bonito, e ela realça seu bumbum. Por isso leva a calça para casa.
Vai dormir com o coração a mil. O encontro é no dia seguinte. Nem consegue trabalhar direito. Pensa nos mínimos detalhes. Pede pra sair mais cedo, porque precisa caprichar no banho de sais, óleos aromáticos, creme após o banho no corpo inteiro, etc. E o retoque final nas unhas. Esmalte descascando, nem pensar! Vai que ele leve um anel de presente pra ela? (começa a “viajar”)...
Maquiagem: outra etapa delicadíssima. E demorada. Chegam ao cúmulo de separar cílio por cílio com palito de dente na hora do rímel! E a escolha da lingerie? Um martírio! Por fim é escolhida uma minúscula tanguinha que não tapa nada e ainda por cima fica entrando na... bem, vocês sabem. Mas qualquer deslize pode ser fatal nesse momento. A gente nunca sabe o que vai acontecer. E se ela escolhe um modelo mais confortável, de malha, e com isso espanta definitivamente o pretendente? Não! É melhor agüentar o “fio dental”...
Por fim vem o sapato. Alto, salto agulha. Aquele que usou no casamento da irmã e depois jogou no fundo do armário, porque ficou com o pé cheio de bolhas. Daqueles que entram no paralelepípedo e a gente quase não pode andar com ele na rua. Mas... chiques. Pronto, isso basta para que se decida por ele. Reza para que ele não a convide para dançar, porque aí vai ser calo na certa! Terá que trabalhar de sandálias Havaianas no dia seguinte! Oh, Deus... como é duro ser mulher! – pensa, indignada.
Perfume é a próxima e derradeira etapa. Nem pouco nem muito, na medida certa. Pra não enjoá-lo – afinal, e se ele for alérgico a perfumes? Fica em pânico por alguns segundos, mas coloca o perfume assim mesmo.
Olha o relógio. Nesse instante o celular toca: é ele, avisando que a espera lá fora.
Seu coração parece querer sair do peito, ao dirigir-se ao encontro do seu “príncipe”.
Já dentro do carro, ele lhe tasca logo de cara um beijo na boca, tirando-lhe o baton. Ela retoca no caminho, para chegar ao restaurante bem linda. Restaurante? Aff, que ilusão! Ele para em um barzinho, tomam um chopp (mais de um não pooooode, porque ele está dirigindo) e em seguida – depois de passar a mão nas coxas dela por baixo da mesa – convida-a a um motel. Ele é lindo e ela não resiste: aceita!
O clima entre eles começa a esquentar ainda no estacionamento. Ela nem sabe direito como chegam ao quarto, entre beijos e amassos. Lá dentro ele tira sua calça apertadíssima – com a minúscula, caríssima e desconfortável calcinha de renda enrolada junto, e nem sequer a vê. Cheio de tesão e amor pra dar, supondo que ela seja assim vinte e quatro horas por dia (produzida, cheirosa, gostosa e... disponível) nem ao menos repara em sua roupa, cabelo, maquiagem, ou supõe que tenha se corroído em dúvidas, se submetido a tratamentos de limpeza de pele e vários outros rituais pré-encontro. Aliás, nem ela mesma se lembra mais disso naquele momento...
A noite é maravilhosa. Ele se revela um amante perfeito. Ela acorda no dia seguinte sentindo-se uma mulher plena, feliz e realizada... e vestida apenas com a camisa dele, descabelada e suada...