O dia em que desisti de acreditar na sanidade.

Crônica do maluco de pedra.

A vida nunca foi justa. Alias a vida nunca foi nada. A vida é apenas a vida. A gente é que constrói um tanto de coisa para dar sentido a própria inutilidade.

Quando eu nasci o Diabo tava dormindo no berço e Deus brincava na varanda vendo o bloco passar. Ninguém nem percebeu que mais um puto vinha no mundo. Até ai tudo bem. Fui crescendo como que invisivelmente fosse e disso criei minhas armas. Tudo parecia está dando certo quando de repente tudo deu errado. Esse tal de “tudo” é que me fudeu a vida. Acabei construindo um “tudo” muito “tudo” e quando vi não tinha era nada, absolutamente nada! Sabe o que é pior, continuei invisível.

"Eu sou o homem invisível e ando à procura da mulher transparente para fazermos coisas nunca vistas"!

Minha fé, somente ela, me faz acreditar que sou. Já que sou, faço parte dessa loucura toda vou apostar no burro contra o cavalo. O cavalo é o bicho mais burro que tem, mas tem aquela marra toda. Propaganda ou otimismo. Como o besouro, que voa por otimismo, vou ser por otimismo. Sou! Já é!

Se depender do resto do mundo vou continuar completamente apagado. – UM ZÉ BUNDA!

"Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando... Porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive, já morreu..." (Luiz Fernando Veríssimo)

Os espinhos que me atravessam no momento, não me deixam agir com o humor que me é peculiar. Como sabem meus leitores adoro fingir que não sinto nada.

No presente tá difícil até respirar. O desemprego batendo na porta. A fome roncando na cabeça. A mulher suando frio. As contas não param de chegar. Os filhos pedindo pra vir. São tantos atributos que às vezes me pego chupando dedo e pensando no colinho da mamãe. “Pare o mundo que eu quero descer!” Brincadeira chata essa de viver!

"Quando você nasceu, você chorou e o mundo alegrou"

Agora estou tentando montar uma peça de teatro. Me organizei todo para o caos. Tudo caminha bem, mas logo a merda não vai dar pra todo mundo e ai meu amigo, eu que sou invisível vou acabar sozinho e ouvindo conselho de entidade para tentar encontrar o caminho de volta para casa.

"Ele foi libertado e está a caminho de sua casa, sem que se tenha pagado nenhum resgate"

Tenho vontade de dizer para o mundo que o mundo não é nada disso. Tá tudo errado! Tem gente feliz porque comprou um carro e outro triste porque não comprou dois. Tem gente feliz porque conseguiu comer um pão com ovo e outro triste porque não tem dinheiro pra sair de casa. Tem o que ler livros e nunca trabalhou e o que trabalha sem nunca ter lido. Fora os que não sabem onde vão dormir hoje e os outros que tem certeza que o chão é duro. Agora eu te pergunto: De que lado você está se está sofrendo? Saco vazio tá cheio de que? Pimenta no cu dos outros arde menos que no teu? Mas eu não vou fazer nada que me desagrade à paciência. Se você ficar pensando nestas respostas durante muito tempo vai acabar ficando maluco de pau duro, esquece tudo. Finge que nem é contigo. Quando tu tiver entrando no mercado e uma mulher com uma criança no colo te pedir para comprar um pacote de Miojo, finge que não é contigo. Vai esquentar a cabeça com essa pobre coitada. Quando, no sinal de transito, você levar um tiro na cabeça vazia de um adolescente de cabeça quente, fingi que não é contigo e morre sem pensar na mulher com o filho no colo na porta do mercado que você escolheu ignorar. Quem bate esquece, quem apanha aprende, a bater doido. Teu miolo vale quantos Miojos?

O Brasil tá mudando, estamos mais otimistas. O emprego cresceu. A moeda tá forte. Estamos construindo um novo futuro. Vamos jogar fora o passado, viver o presente e se embebedar para comemorar a vitória da nação. Antes que a nevoa se dissipe e a gente possa ver o lodo do submundo subindo por nossos calcanhares. Eu vou cagar!

"Porque mijas fora se cagas dentro?! Ou tens o pau torto ou o cú fora do centro!"

Macaco Pelado
Enviado por Macaco Pelado em 13/02/2009
Reeditado em 14/02/2009
Código do texto: T1437854