A Cidade!
O cheiro da cidade incomoda, mas as frustrações acadêmicas já não são suficientes para ocupar a cabeça sedenta de sucesso. Talvez o sucesso seja a grande aspiração de todos, porém, alguns conseguem esconder a tal ponto essa vontade que até parecem humildes e despretensiosos quando, na verdade, são meros fingidores, disfarçadores, farsistas de marca maior que enganam até a si mesmos na ilusão de que vivem por bem, pelo bem e para o bem.
Iludidos mais ainda os que, no torpor vil do mau cheiro metropolitano, pretendem encontrar as respostas para suas indagações ou, simplesmente, a paz. Viver em meio ao piche, ao asfalto, à fumaça e aos cidadãos tornou-se tarefa árdua nas tardes (não só de domingo, mas de segundas, terças, quartas...) e a volatilidade das relações interpessoais não permite que se façam amigos de verdade, que se tenham amores de verdade, que sonhemos de verdade.
O cheiro fúnebre inebria o odor das flores e o som das lágrimas. As expressões entristecidas não se conformam com a noite que cai. A névoa densa cobre a terra e o processo é findado.
Mas, de todos os insucessos, já se pode tirar algumas conclusões óbvias.
Primeiro. Não, o sol não é para todos e, se assim é o sol, que dirá o céu de onde aquele é mero elemento integrante. Segundo. Sim, a vala é para os desesperados e não há possibilidade de retorno. Terceiro. Viver em sociedade significa viver dentro de si, a sociedade odeia você, exclui você, discrimina você, ofende você, detesta você, ou seja, o convívio torna-se apenas uma tarefa de meditação individual e introspectiva. Quarto. Deus não existe. Quinto. Os primeiros serão sempre os primeiros e os últimos serão sempre os últimos. Sexto (e último, por fim). De nada adianta entrar de graça se você terá que pagar um preço para poder sair.
A aura fúnebre e o sentimento de desolação pelos acontecidos retornam e, além destes, surge o temor pelo futuro.
A mediocridade vivente da rotina maçante nos impede de dar um passo em falso. Passos em falso é privilégio das crianças. A fumaça só cresce, mas, ainda assim, o cheiro doce da loucura consegue ser mais forte e penetrante, enquanto o amargo do prazer nos põe inertes diante dos acontecimentos virtuais de nossa realidade. Pobres somos nós, no final das contas.
Todos pobres, já que a nós foram dadas regalias excêntricas e, de certo, devastadoras como criar nossos próprios sonhos, sejam eles sublimes ou conformistas, e, ao mesmo tempo, destruí-los, sejam eles sublimes ou conformistas. E, lembrando da poesia esquecida, entornada no esgoto, temos que diante do odor fúnebre e inebriante, das conclusões óbvias retiradas do convívio humano e, ainda, das incríveis e estapafúrdias escolhas que fazemos, enfim... Diante de tudo, o que nos resta fazer é não se dar ao luxo de parar de sonhar.