A aranha se enredou na própria teia

Há ocasiões em que me sinto dividida entre a glória de estar vivendo no meio do burburinho das invenções e o saudosismo de ter experimentado, por tão pouco tempo, a era pré-tecnológica. Quando as coisas eram mais lentas e vivíamos desconectados, alheios à globalização.

Existem momentos em que me sinto vítima da minha própria armadilha, como a aranha que teceu a teia em volta de si e já não pode mais se libertar. Num caso específico, com o qual pretendo esclarecer este sentimento, a teia em questão é o bendito, em muitas horas maldito, celular. Tenho travado algumas lutas contra ele e percebido que ele está me vencendo.

Desde que inventaram o tal telefone sem fio, e ainda por cima móvel, diminuíram consideravelmente o seu tamanho e sofisticaram o seu design, ele passou a ser uma parte integrante de mim (e de você também, com certeza). Como se fosse um bicho de estimação. Tanto que, aonde vou me sinto na OBRIGAÇÃO de carregá-lo.

Por algumas vezes que andei esquecendo o bichinho, acabei levando xingão de todos os lados: “ Não atende mais o celular?”; “Liguei pra ti a tarde inteira!”;” Não sei pra que tem celular!”. Confesso que fiquei assustada e me sentindo culpada por ter me desconectado por algumas horas. Então a neura pegou! Se for ao banheiro levo o celular (cansei de atendê-lo embaixo do chuveiro). Quando ando pela casa ele está sempre perto de mim. Quando estou na rua ele está na bolsa ou no bolso. Dormimos juntos eu e ele, eu na cama e ele ao lado.

Comecei a me dar conta gravidade do problema quando por inúmeras vezes ao sair de casa com pressa, tive antes que ligar do telefone fixo para minha cara metade móvel, pois não lembrava onde a tinha deixado. A coisa foi tomando proporções tão exageradas que acabei me sentindo com um fio invisível puglado em mim, ligando-me a ele: o celular.

Lembro-me do tempo em que eu saía de casa e caso não avisasse, dificilmente alguém me encontraria. O que me faz contatar que a minha privacidade está totalmente comprometida. É o custo da evolução. Podemos desligá-lo? Até podemos, mas depois teremos que dar um monte de explicação.

Tenho pensado e repensado... Já senti vontade de atirá-lo contra a parede fazendo-o calar de vez, mas renunciei à idéia. Dou desculpas a mim mesma: “E se alguém da família fica doente?”; “E se for um caso de vida ou morte”? Acabo rendendo-me a dependência tecnológica, ignorando que no num passado muito remoto as notícias sempre chegavam, mesmo que fosse ao galope do cavalo. Antiquado? Mas, muito mais romântico, temos que admitir.

Léia Batista
Enviado por Léia Batista em 06/02/2009
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